Você já se perguntou qual é o seu
life stylle? O que define o estilo de
vida? Em grande parte, o é resultado de como lidamos com as situações, por mais
difícil que possa ser a vida de alguém, sempre existem escolhas.
Photos Pete’s Picks |
Vou contar um causo. Um dia, um
iguana de Galápagos se viu em uma situação difícil, numa ilhota abarrotada de outros
iguanas. Além da gramínea cada vez mais escassa, este indivíduo tomou gosto pelas algas
trazidas pelas ondas e passou a se alimentar de forma alternativa. Tempos
depois, arriscou-se entre as pedras para comer algas frescas e enfim aprendeu a
nadar. Hoje, continua iguana, mas vive de forma completamente diferente dos
irmãos terrestres. Estilo de vida é a forma como você vê o mundo, se comporta e vive nele.
O estilo de vida, ou life stylle do surf tem uma história que
envolve valores e preferências de certas pessoas. Muitos sujeitos contribuíram
com o desenvolvimento do esporte, mas destilando suas histórias, vemos uma
essência que podemos definir como o Life
Sylle Surf. E porque não tentar definir o estilo de vida do surfe por suas
figuras mitológicas?
Estilo de vida do surf existe a centenas de anos. Gravura Ron Crocci. Surfistas ancestrais. |
Respeito ao mar - Os primeiros surfistas havaianos e polinésios
viviam em ilhas com fauna e flora ricas, mas a maior abundancia vinha do oceano,
e por isto este povo se tornou mestre em tudo o que se refere ao mar. Um dos
primeiros surfistas ocidentais era filho de um norte-americano com uma nativa
havaiana e se tornou um dos fundadores do corpo de salva-vidas dos EUA. George
Frenth nasceu em 1880 no Havaí, e era um esportista náutico e aquático completo, envolvido
em competições de natação, navegação em canoas, além do surfe. As habilidades e
disposição para enfrentar o mar em várias atividades marcaram as origens do
esporte, com o espírito do povo polinésio, um misto de bravura e respeito ao
mar.
Busca por novas ondas e experiências - O legendário Duke Kahanamoku
seguiu esta tradição e a expandiu. Depois de ganhar medalha de ouro em natação
nas Olimpíadas de 1920, passou a viajar demonstrando o surfe pelos EUA,
Austrália, Africa do Sul entre outros lugares do globo. Duke pode ser
considerado o primeiro surfista profissional, ou free surfer, patrocinado para divulgar a
cultura e o destino de férias havaiano. Além do surf, Duke "tirou onda" como ator
em todo tipo de filmes de Hollywood que tivesse algum nativo no enredo, atuando
como índio apache, samurai ou esquimó. Estereótipos a parte, é importande dizer que Duke semeou o surf mundo afora, com sua tábua havaiana, descendo ondas
desconhecidas, estabeleceu uma meta que se mantém entre todos os surfistas: a surf trip.
Duas figuras históricas: Tom Blaque e Duke Kahanamoku |
Desprendimento e criatividade – Tom Blake foi a ponte entre o surf
ancestral havaiano e o surf moderno ocidental, tanto por seus feitos como pela
personalidade. Blake ficou conhecido principalmente por seu empreendedorismo e
inventividade, revolucionando as pranchas de surf, tornando-as mais leves e
manobráveis, com as hollow boards
(prancha de madeira com estrutura oca) e as primeiras quilhas. Sem medo de
mudanças, este surfista dos primórdios inaugurou um estilo de vida, buscando ganhar a vida com o surf em um tempo que o esporte era considerado uma brincadeira excêntrica. Para isto, começou sua
carreira como atleta, depois salva-vidas, dublê em filmes de ação e finalmente,
mudou-se para o Havaí e lançou modas no arquipélago com o vegetarianismo e
um estilo de vestir bastante despojado, sempre cultuando uma vida simples.
LeRoy Grannis. O cara em pessoa. |
Vida apaixonada - LeRoy Grannis foi um surfista e o grande
fotografo do esporte. Nascido em 1917 em Hermosa Beach, pertenceu a uma geração
que surfava em pranchas de madeira construídas manualmente. Grannis viveu um período de muitas mudanças e
transições, entre guerras mundiais e crises econômicas, trabalhou como
carpinteiro, militar, instrutor de lutas, até se transformar em fotografo por
volta dos anos 60, quando já era um cara maduro. No surf viveu outra transição,
das pranchas de madeira para o poliuretano, captou uma revolução na cultura, no
design e no esporte, com lindas imagens das décadas de 1960 e 1970. O mito da
fotografia e do esporte viveu intensamente até os 94 anos, alguns dizem que
graças a água salgada que corria nas veias.
Perseverança e ousadia – Parece piegas, mas é assim que eu vejo o
pai das pranchas de surf modernas, Bob Simmons. Ele ficou famoso por construir
pranchas usando madeira, isopor e resina epoxy,
a ancestral mais próxima das pranchinhas modernas. Porém, muito mais do que
disto, Simmons ficou conhecido durante os anos 40 por ser grande surfista, que
desbravou muitas ondas nos EUA, viajando em um Ford velho e morando em praias
desertas. Neste sentido expressou a busca incessante dos surfistas em melhorar
a performance e encontrar as melhores condições de ondas. Morreu afogado em um
grande swell, na época que não existiam cordinhas que prendiam as pranchas ao
pé. Muito stylle.
George Greennough dropando alto de joelho. |
Simplicidade e vanguarda – Outro sujeitos responsáveis pelas
manobras radicais do surf moderno é o surfista, cinegrafista e designer, George Greenough. Durante a década de 60, Greenough surfava com pranchões, kneeboards, bodyboards e boias infláveis, isto mesmo, o sujeito gostava de
descer ondas e inventar suas próprias pranchas e acessórios. Uma de suas maiores metas era entrar
e sair de dentro de um tubo com facilidade, coisa rara de se fazer na época.
Inspirado na barbatana do atum desenvolveu uma quilha que se radicalizou
o esporte. Apesar de ser um símbolo da inovação e da vanguarda, o cara é um
exemplo de simplicidade, mora ainda hoje em Byron Bay (AUS) e diz a lenda que o cara pode passar anos sem calçar um sapato. É um dos maiores representantes
do estilo de vida surfe-hippie. Afinal, para surfar e inventar coisas novas não
é necessário nenhuma formalidade.
Gerry Lopes em Pipeline - 1975 Photo: Jef Divine |
Adrenalina e equilíbrio – Poderíamos ficar longamente falando de
muitos sujeitos, surfistas profissionais, shapers, fotógrafos e outros amantes
do esporte que representam o estilo de vida do surf, mas Gerry Lopes é uma
síntese do assunto. O havaiano nascido em 1948 ficou conhecido por desbravar todos
os secret points do Havaí, e tantos
outros mundo a fora. Nos anos 60, Pipeline Banzai, no Havaí, era uma onda praticamente
impossível de surfar em dias clássicos, quando Gerry e uma turma de peso se
mudaram para North Shore e fizeram história. Além de desenvolver pranchas
adequadas àquelas condições (as Guns), Lopes ficou conhecido por ter um estilo calmo, mas extremamente radical. O sujeito parece um mestre shaolin do surf, ou
um monge budista, equilibrado e sorridente, mas é um dos melhores e mais
ousados surfistas da história.
O estilo de vida do surf não
parece tão evidente quanto a identidade visual do surfista. Este é um esporte que se reconstrói constantemente, mas
mantém valores antigos. Somos os iguanas do mar, mesmo que vivendo em terra.