sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Madeiras para contrução de prancha de surf

Nas ilhas polinésia, na costa do Atlântico e em vários cantos do mundo, as canoas nativas selaram nosso casamento com os mares. Um único pedaço de madeira navegável, canoas e pranchas são irmãs, feitas do mesmo material e princípios. No Havaí, os nativos construíam canoas capazes de atravessar um oceano, e como se não bastasse,nas pranchas de surf mostravam suas habilidades nas ondas fortes do arquipélago. No Brasil, uma enorme costa e os infinitos rios também eram navegados por canoas de todo tipo, tudo graças às muitas espécies de madeira e conhecimentos indígenas. Ao longo dos anos, o surf tem se beneficiado de diferentes tipos de madeira, cada uma com funções e histórias diferentes.


As madeiras possuem propriedades físicas, mecânicas, químicas, biológicas, mas vamos direto ao ponto. Uma das madeiras considerada mais leve é a balsa, com 160 kg/m³ e a mais pesada é o pau santo com 1200 kg/m³. Madeiras leves são porosas e normalmente possuem maior flutuação e flexibilidade, mas frequentemente absorvem umidade, empenam e estragam facilmente. Por outro lado, madeiras mais densas são mais duras, impregnadas de resina impedem que o sol, a umidade, fungos ou insetos estraguem ou empenem. A desvantagem é que são pesadas e não boiam tanto. Mas vamos às madeiras mais usuais para construção de pranchas de surf e suas histórias: 

Prancha alaia havaiana e canoa polinésia feitas com madeira koa

KOA (Havaí) - As pranchas de surf havaianas (papa heʻenalu), assim como as canoas ancestrais (waʻa), eram normalmente construídas com a madeira da arvore Koa (acácia koa). O nome koa significa coragem, e é bastante apropriado para suas funções náuticas. A koa é muito comum em todas as ilhas do Havaí, gosta das cinzas vulcânicas e cresce rápido. Com ela eram feitas as pranchas alaias (entre 2 e 3 metros) e paipos (entre 1 e 0,5m), reservadas às pessoas comuns. Porém, madeira boa para construir canoa não pode deixar na mão e tem que ser forte, por isso faz a prancha de surf mais dura e pesada. Conta a favor o fato de possuir alguma flutuação, e ser difícil de empenar e estragar com o mar e o sol constante, além de ser muito bonita. Quando as pranchas de surf passaram a ser feitas também nos EUA, as madeiras mais semelhantes foram às vermelhas. No entanto, os velhos nativos havaianos por muito tempo insistiam, nenhuma madeira vermelha se compara a velha koa para descer ondas. 


WILIWILI (Havaí) – Esta é a madeira que se faziam as respeitáveis Olo, pranchas de surf da nobreza havaiana. As pranchas reservadas aos reis e nobres, feitas com madeira da arvore wiliwili (Erythrina sandwicensis) chegavam a ter 6 metros de comprimento, eram muito finas e com fundo arredondado. A wiliwili é uma madeira bastante leve e com ótima flutuação. Pelas propriedades da madeira e design da prancha, a olo era um pranchão muito rápido, bom para entrar nas ondas havaianas com segurança. 


BALSA (América do Sul) – O Peru é lar do ancestral surf em canoas de junco, e usavam troncos de madeira balsa amarrados para construir grandes jangadas, conhecidas hoje pelo mesmo nome, “balsa”. Esta arvore cresce desde a América central até o norte do Brasil. Na primeira metade do século XX passou a ser usada, entre outras coisas, para construção de pranchas de surf, um marco na evolução do esporte durante a década de 30. A arvore Balsa cresce relativamente rápido, pode chegar a 30 metros de altura e não vive mais do que 40 anos. No entanto, os nativos peruanos usavam o tronco bruto da arvore, pois a seiva conservava a madeira. Para pranchas de surf, a madeira tende a encharcar, perder a flutuação e se desfazer, e por isso passaram a receber tratamento com vernizes e posteriormente com resina e fibra de vidro (glass). As primeiras pranchas com balsa eram mescladas com outras madeiras mais duras, acrescentando resistência ao conjunto. Hoje, graças ao desmatamento e aos aeromedelistas, custam muito caro. 



PAULOWNIA - Este é o nome popular de uma espécie de arvore nativa da China, Laus e Vietnã. A paulownia possui um crescimento muito rápido (aproximadamente 7m no primeiro ano), com inúmeras funções comerciais, tem sido muito usada como madeira de reflorestamento no Japão, Coreia e atualmente na Austrália, Esta arvore ficou conhecida como matéria prima para construção de pranchas de surf alaia graças as experiências do shaper australiano Tom Wegener, que se tornou uma referência na releitura das pranchas de surf primitivas, construindo alaias com novos designs funcionais. O uso recente da paulownia em pranchas de surf é devido o fato de misturar propriedades de leveza, densidade média e resistência (quase não empena), além de ser impermeável, não necessitando tratamento com resina (glass). Outra vantagem está no fato de existirem em abundância, pelo menos na Austrália e na Asia, diferente da balsa, difícil de encontrar. 


AGAVE – Esta tem sido uma solução encontrada recentemente para construção de pranchas de surf de madeira. O agave é uma planta que faz parte da paisagem do México, das folhas extraem o sisal (palha com inúmeras aplicações) e da seiva destilada, a tequila. O agave é uma espécie exótica, trazida ao Brasil para uso em paisagismo e produção do sisal, tornando-se espécie invasora. O ciclo da planta é de 6 a 7 anos, quando desenvolve grandes folhas pontiagudas, e no final da vida desenvolve um tronco que chega a 10 metros de altura de onde nascem as sementes. Depois de reproduzir, a planta morre e seca. Sobra o tronco com uma madeira que chega a ter densidade menor que a própria madeira balsa, isto é, muito leve. A produção de pranchas de surf com bloco de agave é pelo mesmo processo das pranchas de surf de poliuretano convencionais, devendo receber acabamento com resina epoxy. O uso do agave para fins náuticos (principalmente pranchas de surf) ainda é recente, mas o material mostra-se muito conveniente, visto que aproveita o subproduto de uma planta no final do ciclo. No entanto, ainda muito difícil de ser encontrada no mercado. 

No Brasil existem inúmeras espécies de arvores nativas, usadas pelos índios como embarcação e protegidas pelos primeiros portugueses, tornaram-se conhecidas como madeira de lei. Mas é preciso uma análise mais detalhada, e fica para outro post...