segunda-feira, 6 de julho de 2015

A genética das pranchas de surf.

Existe algo misterioso na tecnologia e na forma como nascem as maquinas e objetos que usamos cotidianamente. Estranho como certos conceitos permanecem como um "gene" esquecido, isto é, idéias que nascem e por motivos diversos se vão, mas algo permanece. Um dia, nasce algo totalmente novo, mas é uma releitura de idéias passadas.

Bob Simmons abrindo caminho para o surf em ondas maiores 

Nos anos 40, as melhores pranchas de surf eram feitas de madeira balsa. No entanto, nesta mesma época, eram raros os shapers profissionais, levando uma legião de garotos construírem ou repararem suas pranchas na garagem de casa. Era um autêntico e espontâneo laboratório de inovação. 

O grande destaque deste período foi um garoto californiano, Bob Simmons, que passou a experimentar materiais disponíveis, como isopor, resinas, compensados de madeira, enfim, uma diversidade de modelos e materiais. O modelo mais significativo deste shaper surfista foi uma prancha menor (com aproximadamente 7 pés), semelhante aos fanboards de hoje, com duas quilhas, feito com madeiras industriais, resina epoxy e isopor.

Simmons influenciou alguns surfistas locais com suas pranchas inovadoras, possibilitando pegarem ondas maiores e com muito mais controle. O sujeito morreu afogado em um grande swell aos 35 anos (para saber mais sobre sua história acesse este link) sem ter ideia de que seria considerado o pai das pranchas modernas shapeadas em poliuretano e com resina epoxi ou poliéster.

Nick e Bear Mirandon. Anos 60.

O design das pranchas de Simmons não influenciaram tanto as prancha na época como os materiais que experimentou, causando uma revolução com uso de derivados de petróleo (resinas epoxy, poliéster e blocos de poliuretano). Mas o gene das idéias de Simmons estava lá, e quase 20 anos depois, inspirado no design das duas quilhas, os irmãos Nick e Bear Mirandon fizeram um modelo biquilha, buscando uma prancha rápida e manobrável, mas que funcionassem com a segurança de uma pin tale (quando a rabeta termina em forma de bico). A ideia não vingou muito, mas reavivou conceitos esquecidos.

Prancha Fish, Steve Lis, uma unanimidade nos anos 70. 


Nesta mesma época, também inspirado por Simmons, Steve Lis, um adolescente que surfava de kneeboard (uma prancha que o surfista fica de joelhos) criou a primeira prancha fish tale, com duas quilhas. Dois grandes surfistas havaianos da época, Reno Abellira e Jeff Ching, experimentaram surfar em pé naquela "prancha de joelho", revolucionando novamente o esporte, mas desta vez pelo design funcional da prancha. A prancha de duas quilhas, idealizada nos anos 40 e 50, foi primorada nos anos 60 e se tornaram ainda o melhor nos anos 70, quando o tricampeão mundial, Mark Richards aprimorou o shape, transformando a prancha de duas quilhas em uma máquina de manobras agressivas, rasgando as ondas no limite da gravidade.






Modelo Minisimmons. Ano 2006.

Em 2006, quando tudo parecia ter sido inventado em termos de pranchas, surge o modelo Mini-Simmons, patenteado por Joe Bauguess. Rapidamente diversos shapers passaram a experimentar o novo modelo que unia a remada de um longboard com a manobrabilidade de uma pranchinha. A Mini Simmons costumam ser pequenas (aproximadamente 5 pés), possui um bico mais largo e redondo, pouca invergação (rocker), bastante flutuação e uma largura (rail) maior que o das pranchinhas convencionais.

De fato, o gene de uma boa ideia costuma ser forte, hoje este modelo já se consolidou em uma prancha de alta performance, mas também de um surf fácil e solto.