terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Moby Dick e o insondável fantasma da vida...


Trechos do livro Moby Dick que falam da atração pelo mar. Sem mais palavras...



(...) Sem saber, quase todos os homens nutrem, cada um a seu modo, uma vez ou outra, praticamente o mesmo sentimento que tenho pelo oceano (...) Perambule pela cidade numa tarde eterea de sabado. O que vê? Plantados como sentinelas silenciosas por toda a cidade, milhares e milhares de pobres mortais perdido em fantasias oceânicas. 

(...) Alguns encostados em pilares; outros sentados do lado do cais; ou olhando sobre a amurada de navios chineses; ou, ainda mais elevados, no cordame, como que tentados conseguir dar uma olhada melhor no mar. Mas estes são homens de terra; que nos dias da semana estão enclausurados em ripas e estuques - cravados em balcões, pregados em assentos, fincados em escrivaninhas. O que é isso então? O que fazem ali?

(...) Digamos, você está no campo, numa região montanhosa de lagos. Praticamente qualquer trilha que você escolha, nove em cada dez o levarão a um vale, perto do poço de um rio. Existe uma mágica nisso. Se o mais distraído dos homens estiver mergulhado em sonhos mais profundos - coloque esse homem de pé, ponha-o para andar, e não tenha dúvida de que ele o levaraá até a água, se houver água em toda a região (...) Pois, como todos sabem, a meditação e a água estão casados para todo o sempre... 

(...) Tudo isso certamente tem um significado. E ainda mais profundo é o significado da história de Narciso, que, por não conseguir chegar à imagem provocativa e difusa que viu na fonte, nela mergulhou e se afogou. Mas nós vemos essa mesma imagem em todos os rios e oceanos do mundo. 

É a imagem do insondável fantasma da vida; e esta é a chave de tudo.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A visão do paraíso

Heather Brown



Uma coisa curiosa que nenhum surfista ou fanático por lindas praias se dá conta é este é o nosso imaginário do paraíso. 

Enquanto o filho, Chico Buarque, cantava que não existe pecado do lado de baixo do equador, o pai, Sergio Buarque de Holanda escrevia toda uma teoria sobre os grandes navegadores sua busca pelo paraíso terrestre. Visões do Paraíso é um livro sobre a história dos desbravadores e o imaginário daqueles tempos, em que talvez o paraíso de Adão e Eva descrito em Gênesis, não fosse extraterreno, mas perdido no infinito de mar. 

Pensando bem, o que significa encontrar lugares intocados pela civilização, com nativos seminus, água, frutas e alimentos em abundância, praias com coqueiros, sexo livre, sem culpa ou pecado, a noite um céu estrelado e muita musica. Ate certo ponto, foi assim, descendo a costa americana pelo Atlântico ou explorando arquipélagos Polinésios no Pacífico.

Talvez o auge tenha sido pelas ilhas do Taiti como vimos nas pinturas Paul Gauguin ou nos relatos de além mar do Havaí, feitos pela tripulação do capitão James Cook, ao longo dos séculos XVIII e XIX. Depois disso passamos a venerar, quase inconsciente aquela vidinha tribal...    

PS. De certa forma, aqueles exploradores deixaram uma lição, de que o paraíso não se conquista: entrega-se.

Paul Gauguin: Two Tahitian Women


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um conto macabro sobre tempo e ambição.

Imagem obtida em http://weheartit.com


O grande dilema do nosso tempo é a falta dele: o sagrado Tempo. 

Tudo começou quando fizemos o grande pacto com o Deus Ex Machina, senhor das tecnicas e todas as máquinas. Assim, de um simples galho fez-se o tacape e a lança para domínio de todos os animais, do arado se fez a agricultura e quando menos se esperava tínhamos Gaia, a mãe Terra, em nosso poder.

As perspectivas eram as melhores, as oportunidades infinitas. Sem demora saímos circunavegando o mundo, nosso território por direito. Nem Posseidon, o deus dos mares, ou Urano, o deus dos céus, puderam nos impedir. O domínio foi ainda maior quando nos aliamos a Apolo e Dionísio, a guerra e a diversão sem fim.

Mas um dia aquele velho pacto gorou, e o grande fiador veio cobrar seu preço. Chronos, o grande deus do tempo, vendo nossa ganância tirou de nós o poder de gozá-lo. Logo as máquinas que nos serviram para a dominação, passaram a nos consumir.

Um dia acordamos e não podíamos nos separar dos nossos aparelhos, que prometendo nos dar tempo (e a história é cheia dessas ironias) nos dominavam como uma droga perversa. Quando menos esperávamos, nos vimos presos, irremediavelmente presos, sempre chamados aos pequenos aparelhos para ler informações inúteis, comentar intrigas, ver imagens que se reproduzem sem fim, pregando os olhos as telas.

Os Deuses podem ser cruéis, e Chronos talvez seja o mais impiedoso aos seres vivos. Nossa  beleza perdeu o encanto, pois as máquinas também podiam manipular a imagem, e mesmo possuindo mais pura perfeição da natureza, o tempo não faz acordos, e a beleza se esvai. Mais uma vez as máquinas prometeram nos salvar, mas tudo o que fizeram foram truques grotescos à vista.
 
A contemplação perdeu o lugar para o acúmulo e a razão tratou de subjugar a sabedoria.  

Paro e reflito sobre o final deste conto macabro e o alarme do relógio diz que é tarde. Vejo as mensagens angustiado. Mecanicamente vou dormir pensando em amanhã.

PS. Agora entendo Nietzche. As coisas são melhor explicadas com uma ajuda dos Deuses mitológicos. Maldito racinalismo!

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Partimos para um sabático rumo aos mares do Pacífico. Em algum porto, depois de comer um belo peixe ou após surfar as ondas de um spot desconhecido, voltarei a escrever. Caso contrário, procurem-me na barriga de uma baleia chamada Moby Dick...

Até breve.

M&A

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Um Catamarã para a Costa Verde

Nas ultimas férias, visitando amigos em Angra dos Reis começamos o projeto de uma embarcação, sem maiores custos e feita à mãos. A missão seria conquistar algumas ilhas próximas aquela baía onde eles vivem com suas famílias. E quem já leu as aventuras de Amir Klink sabe, a concepção de um barco é tão importante quanto a viagem, ou melhor, é parte dela.

George Hunter
 
Desde a Costa Verde do litoral fluminense às bandas de Ubatuba, o lugar é feito para se navegar. E se a vista para o mar é linda, a costa avistada da água possui as curvas femininas, uma autentica nativa, a belíssima: Serra do Mar. A terra sagrada dos Tupinambás mantem seus encantos, mesmo com seus grandes portos, a extração petroquímica, cidades mal planejadas ou áté mesmo, reatores nuclear.

Subindo a rodovia Rio Santos, seguimos eu e minha mulher rumo o litoral sul fluminense ao encontro de amigos que hoje vivem praquelas bandas. Vinícius Ramos, o Vico, hoje é chefe da Area de Proteção Ambiental (APA) Tamoios, onde ele e sua família, Fê e os pequenos Pedro e João foram os pioneiros da nossa turma. Em seguida o Felipe Spina, vulgo Gordo, e sua namorada Camila foram para trabalhar com gestão ambiental naquele litoral. Logo cheguei e concordamos que o lugar devia ser explorado pelas águas, e o projeto da embarcação teve início.

No primeiro dia, começamos decidindo entre uma canoa caiçara, Stand Up Padles para travessias, caiaques, jangada ou veleiro. A decisão depende essencialmente dos recursos que se tem às mãos, e à primeira vista, tínhamos uma diversidade de madeiras a nosso redor.




    A canoa de um pau é a mais tradicional, um grande tronco esculpido na base de machado e enxó. A região tem ótimas madeiras para construí-las, o Guapuruvú, o Cedro, a Timbuva, a Canela-Preta, Canela-Nhunguvira, entre outras usadas por índios e caiçaras. Mas eramos um sociólogo, um engenheiro florestal e um biólogo preocupados com a preservação daquela região, portanto, sem chance de cortar uma arvore sem replantio, autorizações, plano de gestão, etc. Melhor seria deixar as espécies nativas em paz e procurar outras opções.

     O Vico lembrou que havia um morro cheio de Agaves, uma madeira leve e muito flutuante, boa para fazer uma prancha de Stand Up Padle ou uma balsa, como as usadas no Peru desde as civilizações pré-Incas. O Agave é uma planta exótica, comum nos jardins e canteiros centrais de vias públicas, das folhas se usam as fibras e do miolo se faz a tequila, mas a parte que nos interessa é o tronco que nasce no final da vida desta planta, muito poroso e leve como um poliuretano. Como não são nativas do Brasil, o corte é liberado. Mas para fazer pranchas como estas é necessário dominar o uso de resina epoxy e fibra de vidro, que não tem segredos e o resultado é semelhante ao de uma prancha de surf, um pouco mais rústica.

  No entanto, uma visita ao local e percebemos que o terreno era intransponível, e extração nossa matéria prima se mostrou inviável.

   Voltando da nossa busca por madeiras passamos pela cidade de Angra dos Reis e um raio caiu sobre as ideias: o lixo urbano ia salvar a gente do naufrágio. Lembrei de um sujeito que fazia
pranchas de surf com garrafas pet, o gaúcho Jairo Lumertz que adaptou técnicas e criou um projeto de surfe e Stand Up Padle reutilizando material descartado. Com 45 garrafas pet é possível fazer uma prancha que sustenta uma pessoa, logo, calculamos por volta de 400 garrafas seria o suficiente para construir os cascos de um pequeno catamarã.

  O catamarã é como uma canoa de dois cascos, hidrodinâmica como um veleiro e estável como uma balsa, semelhante aquelas canoas que os polinésios viajavam longos percursos, Além de ser fácil de velejar e remar, o desenho desta embarcação se adaptaria perfeitamente à nossa matéria prima. O pet das garravas de refrigerante é bastante resistente, colocando-se gelo seco dentro fica dura e com grande flutuação. Depois disso, cola de poliuretano, resina epoxy, telas, bambu, redes, tábuas, o reaproveitamento de madeiras e outros materiais seriam suficiente para fazer uma bela embarcação, forte suficiente para nossas jornadas pela costa.


Ron Croci

  O trabalho começa no papel, desenhando, calculando e visitando pontos de reciclagem, revirando o lixo do vizinho. Um bambuzal no caminho e um papo com o dono do terreno e temos outro excelente material para confecção de remos, mastros e outras partes do catamarã. Depois de um pequeno tratamento o bambu vale ouro! Em alguns dias tínhamos um bom projeto, material suficiente para iniciar a construção dos cascos e desenho de outras partes, como lemes, quilhas, velas, convés, etc. 

  O projeto cresceu e voltei para casa com um barco inacabado. Mas a existem adversidades que só melhoram a situação, pois em São Paulo descobrimos uma mina de recursos, a cada quarteirão uma caçamba abarrotada de entulhos, restos de reformas de apartamento e obras com uma infinidade de materiais a disposição. As madeiras das matas que queriamos preservar estavam todas lá: perobas, cedros, freijó, ipês, cumaru, a mais pura nobreza dispensadas como lixo, além de outros materiais muito úteis para a construção náutica.

As pessoas se preocupam apenas em possuir coisas e não se dão conta do valor dos materiais que jogam fora.

  O trabalho continua, nos feriados e finais de semana, na expectativa de que este verão a as ilhas e baias daquela costa vejam um catamarã diferente, nascido dos restos da cidade e do lixo urbano, contrariando toda a lógica do consumo e do desperdício, aproveitando as ondas e o vento como qualquer barco, conquistando os mares sem derrubar uma árvore.

domingo, 15 de junho de 2014

Entrevista com o Shaper Guga Arruda: a vanguarda das pranchinhas

Texto Madeira & Água publicado em: : Surfari, Surfguru,
 
Shaper e surfista na mesma onda.


Guga Arruda é o shaper das pranchas Power Light Surfboards, mas essencialmente um surfista profissional que também se interessou por outras áreas do esporte. Esta união de atleta profissional e shaper curioso, tem feito Guga se destacar como construtor de pranchas. O motivo é a inovação, em vários aspectos; nos materiais usados, no processo de construção, no desempenho e qualidade das pranchas. 
Quando vi pela primeira vez  uma prancha da Power Light, pensei ser conversa de vendedor, dizendo que era mais resistente, muito leve e com uma ótima performance. Depois, conhecendo melhor o shaper, percebi o empenho de um surfista para melhorar suas manobras. Aprimorando os movimentos na onda, Guga tem mostrado um produto muito diferente do que vemos no mercado, e para entender melhor esta busca, conversamos com o próprio:

Guga Arruda e sua 5'10", Faca na Manteiga.

M&A: Guga, conta o início da sua história no surf. De onde você vem e como começou no esporte?
Guga Arruda: Sou nativo de Floripa, comecei a surfar com o incentivo do meu primo Neko e nunca mais parei.

M&A: No seu caso, além de construir pranchas você é um surfista profissional. Fale para nós desta trajetória, como passou de dentro d’água para as oficinas de pranchas.
Guga Arruda: Como surfista profissional, sempre busquei as melhores pranchas para atingir alta performance, nesta busca conheci os melhores shapers do mundo e busquei os materiais q pudessem oferecer performance, pra fazer a prancha do jeito qeu queria, precisei fazer eu mesmo.

M&A: Quem foram seus mestres neste ofício, aqueles que te ensinaram o que você sabe?
Guga Arruda: Tive os melhores mestre, entre eles gostaria de citar: Avelino Bastos, Igor Havenga, Fernando Sheena, Ricardo Martins, Pat Rawson, Jonh Carper, João Maynart, Mario Flavio, Paulo Araujo, Jair Fernades.

M&A: Os melhores shapers são antes de tudo surfistas exigentes, suas pranchas refletem estilo e conceitos sobre o esporte. Eu tive a oportunidade de pegar algumas das suas pranchas e percebi que elas são de alta performance. Quem são tuas referências dentro d’água?
Guga Arruda:Teco Padaratz, sempre foi uma grande referencia e hoje mais ainda como test driver das minhas pranchas.

5'10" Kuringa Wing Swalow

M&A: Você possui um grande diferencial no mercado de pranchas de surf, seu processo de construção é totalmente diferente do convencional. Como você chegou aos modelos de termo-moldagem? Qual benefício desta técnica?
Guga Arruda: Jair Fernandes foi meu professor nesse metodo, depois disso ja trabalho ha 6 anos com esse metodo, evoluindo e desenvolvendo, e hoje mantemos uma patente compartilhada. Os beneficios vão desde a redução de residuos toxicos, durabilidade, leveza até a mais alta performance alcançada com o controle da flexibilidade e a oportunidade de reproduzir as pranchas magicas em moldes.

 M&A: Outra grande inovação é o acabamento das suas pranchas. Normalmente usa-se fibra de vidro, mas suas pranchas possuem fibra de carbono, Kevlar (fibra sintética) e folha de madeira. Estas inovações são invenção sua? Fale-nos das vantagens de uma prancha com estes materiais.
Guga Arruda: Aprendi um pouco c cada mestre, mas o trabalho de flexibilidade em cima de madeira, kevlar e carbono, fui eu mesmo q encabecei nos ultimos anos por interesse de surfar cada vez melhor. O Carbono, alem de leveza e resistencia, agrega velocidade as pranchas, o kevlar tambem leve e resistente é mais flexivel e agrega maleabilidade e a madeira q é nosso carro chefe fica com a flexibilidade mediana e proporciona uma prancha equilibrada entre velocidade e maleabilidade.

M&A: A carreira de surfista ou de shaper são cheios de viagens, praia e mar. Mas não é tão simples seguir este estilo de vida no Brasil, pede-se talento, perseverança e uma dose considerável de sorte. Como você avalia o mercado atual em relação ao começo da sua carreira?
Guga Arruda: O Mercado vem crescendo e as pessoas estão mais exigentes e dispostas a pagar mais por algo melhor, surfar traz felicidade e felicidade não tem preço. Na era da informação onde todos tem acesso a tudo, o cliente quer o que ha de melhor e isso nos possibilita investir em pesquisa e manter nossa busca pela performance.



Filme Power Light from gustavo kasting arruda on Vimeo.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Entrevista com o shaper Felipe Siebert: a fina marcenaria das pranchas de surf hollow



Felipe Siebert. Foto: Pedro Marques

Nos anos 30 uma nova tecnologia em pranchas balançou o mundo do surf, eram as Hollow craft boards. Ao invés das pesadas pranchas de surf havaianas de madeira maciça, inventou-se uma prancha de madeira oca por dentro. Até então, o surf era um esporte exótico, praticado em alguns poucos lugares no mundo, mas estas pequenas inovações contribuíram para disseminação e evolução do esporte.

Atualmente, um seleto grupo de pessoas vem percorrendo o caminho contrário desta evolução, desenvolvendo um mercado de pranchas de surf muito distinto, mas com um público maduro em busca da essência perdida de um esporte ancestral. 

Felipe Siebert, nascido e crescido no litoral catarinense é um representante deste nicho no Brasil. Desde 2004, quando fez seus primeiros experimentos com pranchas de madeira, vem consolidando a marca Siebert Woodcraft Surfboards no mercado nacional, junto do seu irmão Fábio e outros parceiros.
Felipe Siebert, shaper e empresário da marca Siebert Woodcraft Surfboards.
Foto: Marcos Vilas Boas
 
A Siebert fabrica pranchas de madeira com ótimo desempenho nas ondas, mas que vão muito além, impregnadas de história e um estilo de surf que remete à raiz do esporte. Conversamos com este shaper-marceneiro para saber sobre seu trabalho, inspirações e ideais:

M&A: Você vive em de uma região com praias lindas, ótimas ondas e muito surf no currículo. Mesmo assim, sendo este o país do futebol, acho muito curioso a trajetória de pessoas que empreenderam carreiras como a sua. Então, vamos à gênese:
Quando começou sua história com o surfe?

Siebert: Antes de tudo, a visão que tenho do surf, também se reflete no futebol. Até algumas décadas atrás a “arte” de jogar, a habilidade dos jogadores, se destacava mais do que o dinheiro e o marketing. O surf parece ter pendido para o mesmo lado, com a hegemonia das grandes marcas, etc. 
Eu gosto de futebol, mesmo tendo total consciência do que acabou se tornando, ainda sim, vou aos jogos para ver os detalhes, a habilidade dos jogadores, a arte, não importa quem ganha, ou os pontos no campeonato. O mesmo acontece quando vejo o WCT: não me importo com o resultado das baterias. Assisti algumas etapas em Imbituba e gostava de me posicionar no costão vendo as ondas de frente, mas não dava para saber quem eram os vencedores, o que realmente não fazia a menor diferença para mim. Gosto mesmo é de ver a onda e a habilidade dos surfistas, mesmo sabendo que eles estão limitados pelas manobras solicitadas pelos juízes. 
Mas voltando a pergunta: Passei todos os verões da minha vida na região de Laguna, Farol de Santa Marta. Sempre estive na água, mas comecei a surfar com pranchas de surf, em pé, somente com 19 anos (bem tarde para a maioria). Como iniciante, fui influenciado pelo que ocorria ao meu redor, que era o surf de shortboards, mas sempre estive de olho numa prancha do meu tio que estava “aposentada”. Ficava em cima do armário da minha vó, até que um dia ela permitiu que eu botasse na água. Era uma das primeiras pranchas de Santa Catarina, shapeada pelo Machucho nos anos 70, uma monoquilha, com um stinger e um fish tail. Todo mundo achava estranho, mas eu me divertia com essa prancha e fui pegando o gosto por pranchas “estranhas” enquanto todos queriam apenas ser o Kelly Slater.

M&A: Normalmente a primeira prancha de um shaper possui um valor muito especial, trata-se de uma realização pessoal. Daí para se tornar um profissional exige trabalho árduo, talento e certa dose de sorte ao longo do caminho.
Fale sobre como um hobby se tornou negócio?

Siebert: Não tenho muito apego as coisas que faço. Apesar de gostar e achar bonito, para mim parece fácil fazer e acabo não dando muito valor. Fico realizado mesmo fazendo algo que deixe as pessoas felizes, ou ver alguém surfando com as minhas pranchas e sorrindo. 
A parte “árdua” acaba sendo relacionada aos prazos, imprevistos na produção e detalhes administrativos e burocráticos, mas não tenho do que reclamar. Iniciei a minha a primeira prancha, sem nenhuma pretensão, nas férias da faculdade e posteriormente fiz outras para alguns amigos. Aos poucos recebi novos pedidos e percebi esta lacuna nas pranchas produzidas no Brasil. Comecei a estudar mais a fundo os shapes, a história e tudo que estava relacionado a estas pranchas. Apesar de o público ser bem especifico, ele existe. Então foi um caminho natural.

Felipe Siebert surfando em um dos seus clássicos longboards. Foto: Fábio Siebert
 
M&A:Tem gente que escolhe a profissão pela grana, outros escolhem por vocação ou estilo de vida. A profissão de shaper parece uma daquelas carreiras que todo surfista sonhou um dia, mas nem tudo é o que parece.
Fale do seu dia a dia, como é a rotina do seu trabalho? Consegue conciliar qualidade de vida com o ofício de shaper e a carreira de empresário?

Siebert: Nem tudo é o que parece. Em relação aos outros shaper, eu ainda considero que tenho regalias. Fazer pranchas é uma profissão muito dura e agressiva. Exige muito da parte física e para ter uma condição de lucratividade razoável, o volume de pranchas tem que ser grande, pois a margem é baixíssima. Acho que o glamour leva muitas pessoas a iniciar nesta profissão, mas muitos que tem a possibilidade de conseguir algo financeiramente melhor, não perdem a oportunidade de sair do mercado.
Felizmente acredito que fizemos uma boa opção, desenvolvendo uma variedade de produtos, o que faz não dependermos somente das pranchas. Nos últimos anos consegui encaixar uma rotina razoável, onde trabalho 60% do tempo no computador e 40% na fábrica. Faço toda construção dos esqueletos das pranchas, a colagem, e um dos meus parceiros fecha as bordas e faz o pré-shape. Eu finalizo os acabamentos e levo para laminação, que é terceirizada. Os demais produtos eu atuo mais no desenvolvimento e alterações de projeto e meus parceiros replicam os projetos. Eu cuido da compra de todo material, e o meu irmão, Fábio Siebert, que é designer, cuida do site, loja virtual, comunicação, venda de outros produtos, etc. Nossa equipe é excelente.
Quando não preciso estar na fábrica, posso ficar um pouco na praia, surfar algumas horas e usar o tempo restante do dia para trabalhar no computador.

M&A: A Siebert constrói as chamadas hollow wooden surfboards, isto é, pranchas de surf feitas de madeira com uma estrutura oca por dentro, técnica desenvolvida na década de 1930 pelo lendário Tom Blake. Atualmente é raro encontrar pranchas de surf feitas com esta técnica e qualidade de acabamento.
Você pode nos contar como aprendeu a fazer estas pranchas de surfe? Possui um mestre na arte de shaper-marceneiro, ou foi o processo autodidata de tentativa e erro?

Siebert: É uma prancha difícil de fazer na qualidade necessária para ser funcional. Foi um processo praticamente autodidata. Na época estava pesquisando para comprar um longboard de balsa, quando descobri as Hollows produzidas pelo Tom Wegener, Grain e Paul Jensen. Consegui ver algumas fotos e foi nisso que me baseei para desenvolver o projeto para tentar construir uma, já que as de Balsa que achei, estavam bem fora do meu orçamento de estudante. 
De certa forma. acho que fiz um bom projeto já no primeiro modelo e posteriormente fui aperfeiçoando. Felizmente os erros não foram tantos. Posteriormente fui testando os extremos de resistência, leveza e outros, e atualmente sabemos os limites construtivos e materiais adequados. Sabemos onde devemos reforçar a prancha onde podemos reduzir peso, o tipo de madeira, resina, etc. A parte que mais custamos para chegar num bom nível foi na parte de laminação.



M&A: Desde a identidade visual da marca, às curvas das suas pranchas de surfe, podemos perceber que existem referências no seu trabalho.
Existem pessoas que inspiram o seu trabalho? Quem são teus ídolos, seja dentro ou fora do universo do surf?

Siebert: Fiquei muito feliz quando conheci o Greg Noll numa feira de surf em SP e pude ver uma das pranchas que ele (ou o seu filho Jed Noll) fez, réplica de uma Da Cat.
Estudei bastante as dimensões de prancha da década de 50 e 60 e admiro muitos dos shapers daquela época. Não tenho grandes ídolos e não costumo idolatrar as pessoas, mas é certo que admiro a forma que algumas pessoas vivem e trabalham e que me causa grande admiração.
Por exemplo, admiro Dan Malloy, Chris Malloy e vários anônimos que aparecem nas suas produções cinematográficas, pessoas com uma vida simples, mas que se dedicam a algo que as fazem extremamente felizes. Tom Wegener, Brian Bent, para citar alguns que tem muita personalidade e que são grandes artistas. Mas a lista é grande demais, mesmo ficando somente no campo do surf. Outro exemplo é Dale Velzy, como empreendedor de algo que não existia (fabrica de pranchas), mas tem muitos outros destemidos que enfrentaram ondas desconhecidas e que só sabemos disso devido a pessoas como Bruce Brown... Daria para escrever muito.
Tenho especial admiração por pessoas que dedicam décadas às artes perdidas, trabalhos manuais que atualmente são confeccionados por maquinas, artistas anônimos, escondidos nos seus ateliês mundo a fora, perpetuando artes que em breve deixarão de existir. Vejo excelentes vídeos sobre pessoas assim no etsy.com (para entender melhor estas inspirações, veja este link, e este aqui).

M&A: Além do fato de serem feitas de madeira, podemos notar que o quiver das pranchas Siebert valorizam modelos retrôs de diferentes épocas, como os longboards clássicos, monoquilhas, fish e mini-simmons. Estas pranchas permitem um bom desempenho nas ondas, mas muito diferente daquele visto em campeonatos, são ideais para um surf mais “soul”, isto é, com mais estilo e menos “performance”.
Existe uma busca pessoal expressa de alguma forma nas tuas pranchas? O que te levou a resgatar técnicas e modelos áureos das pranchas de surf?

Siebert: Sempre dei muita importância para parte de shape, mais até do que o fato de ela ser de madeira ou de qualquer outro material, pois apenas fazer algo esteticamente bonito não bastava, seria uma prancha sem valor se não tivesse funcionalidade na água.
Os longboards são os astros, sempre. A meu ver, a comparação destas pranchas, ou mesmo do surf proporcionado com elas, em relação ao surf progressivo deve sequer existir. O longboard clássico, principalmente, é outro esporte. Já vi profissionais de surf de performance subirem num longboard parecendo um completo amador, iniciante no esporte. Ele exige outro raciocínio, posicionamento dos pés e do corpo. É um surf que precisa apenas técnica, exige muito pouco da parte física, principalmente se a técnica do surfista for apurada.
Tanto as pranchas que fabrico, como os demais produtos, tiveram origem por gosto pessoal, e minha busca pessoal, relaciona-se à tentativa de conservar este tipo de surf vivo, manter aquelas pranchas vivas. Em termos de diversão dentro da água, considero as pranchas que eu faço grandes invenções da sua época, pois não deixou nada a dever aos modelos novos, tanto é que são reproduzidas até hoje por funcionarem bem. Então é o tipo de coisa que foi inventada da forma mais perfeita.
O meu trabalhado atualmente é sempre buscar novas matérias primas e técnicas de construção.
 


M&A: As pranchas hollow de madeira são belíssimas, isto é fato, mas pouca gente conhece ou já experimentou este modelo.
Quais os diferenciais destas pranchas de surf? Elas têm uma durabilidade maior?

Siebert: São mais duráveis sim. Tem uma grande vantagem que é não amassar. É claro que não são indestrutíveis e já vi alguns casos de danos nas quilhas, por exemplo. É um ponto que nos últimos anos trabalhamos bastante para criar um conjunto que seja resistente por igual. Antes da laminação, a quilha já é fixada no interior da prancha. O fato de ser de madeira e vendermos apenas via website, trás certa desconfiança. Compreensível, já que é uma prancha que, só em termos de shape, já é completamente diferente do que normalmente se vê no Brasil. Mas já presenciei várias situações onde a pessoa tem a oportunidade de testar e a resposta sempre é muito positiva, até mesmo pelo fato de que a pessoa entra na água achando que não vai funcionar. 

Um dos casos que achei interessante foi quando gravamos cenas para o filme do Jaime Viudes, onde ele pegou a prancha na praia para testar e antes, eu pedi para ele avaliar o shape de forma bem critica, citando qualquer detalhe que ele considerasse que fosse possível melhorar. Ele comentou algumas situações e eu levei em consideração já que ele já havia testado uma infinidade de shapes e tem um surf de excelente qualidade técnica. Ele ficou por uma hora na água e quanto saiu, falou lá de longe: “Felipe! Esquece tudo que eu te disse, não muda nada, a prancha é perfeita”. Fiquei lisonjeado, claro.

M&A: Sabemos que em países como Austrália, EUA e Havaí, o surf é um esporte respeitado e um mercado consistente. No Brasil, sempre foi mais limitado para quem quer viver do esporte, mas recentemente temos visto um crescimento do público, a profissionalização dos meios de comunicação e diversos atletas com destaque internacional.

Neste contexto, acredita que o Brasil tem conseguido construir uma cultura sólida no surf? Em sua opinião, qual perspectiva para este mercado?

Siebert: Apesar de a Siebert fazer parte deste mercado, o tempo todo nós tentamos fugir do rótulo de “surf”, prefiro que sejamos vistos mais como “life style” do que dentro do mercado do surf, que na minha visão, como quase na maioria dos ramos, as grandes marcas conseguem estragar tudo que botam a mão. 

Os produtos perdem a identidade, são trabalhados por pessoas que não tem conhecimento do assunto, mas são muito bons em marketing e vendas. O Brasil segue a mesma tendência mundial: WCT, Medina, etc... Nada disso me interessa muito e não faz parte do que eu acompanho e considero surf de verdade. Por sorte uma minoria procura algo a mais daquilo que é imposto.
 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Entrevista com o shaper Rodrigo Matsuda: entre alaias e a terra dos tsunamis.

Texto Madeira & Água publicado em: Surfguru

Surfar é deslizar nas ondas, brincando na face do mar como fazem os peixes. Dito isto, fica fácil imaginar porque os surfistas são tão aficionados pelo esporte, mas esta é apenas a superfície, mais afundo existe um universo riquíssimo. Neste contexto, os shapers, enquanto construtores de pranchas de surfe carregam consigo a sabedoria dos xamãs, com conhecimentos que ora elevam o surf para além dos limites, ora resgatam a essência mais pura do esporte.
 
Jr. Faria Surfando uma prancha Lasca. Foto: Jair Bortoleto

Rodrigo Matsuda é um destes expoentes. Nascido em São Paulo, mora no Guarujá e é construtor das pranchas de surf mais tradicionais que existem, as Alaias, Paipos e Handplanes. Sua marca chama-se Lasca Surfboards.
Rodrigo é jovem, mas tem a voz calma daquelas pessoas experientes. Antes de tudo é um grande entusiasta do esporte que foi morar no Japão em busca de um rumo e acabou aprendendo fazer pranchas de surf de madeira com mestres da terra dos tsunamis. A seguir, ele conta um pouco da trajetória, o conceito das suas pranchas, a proximidade com as artes e o estilo de vida de um shaper brasileiro. 


Rodrigo Matsuda com suas pranchas Lasca

M&A: Hoje é difícil imaginar um shaper que não seja apaixonado pelo mar. Neste contexto, qual sua história com este esporte? O que te atraiu para este universo?

Matsuda: Desde criança pratiquei esportes, mas o que me atraia mesmo eram coisas ligadas à arte, adorava desenhar, trabalhei com vasos de cerâmica artesanais, pintei quadros, gostava de ir a museus. 
Já no começo da adolescência comecei a andar de skate e surfar com influência do meu irmão e meus primos mais velhos. Tinha muito interesse em saber sobre as pranchas, tamanhos, modelos, também gostava muito dos logotipos das marcas. E assim fui me interessando cada vez mais por esse universo que o surf traz.
M&A: Existem muito ídolos no esporte, mas cada um tem suas referências. Quais são as suas?
Matsuda: As minhas referências são pessoas que tive convívio, acredito que para ser uma boa referência, além de bom profissional, precisa ser uma boa pessoa. 

Os meus maiores ídolos são os shapers: Yuichi Endo, Tom Wegener, Nobby Okhawa, Tatsuro Ota. Além de ótimos profissionais gosto muito a forma que eles divulgam nosso esporte, de uma forma simples divertida .

M&A: Você já trabalhou com pranchas convencionais, digo, aquelas derivadas do petróleo (a base de poliuretano, resinas, etc)? O que te levou ao movimento alternativo das pranchas de madeira e quem foi seu mestre neste ofício?
Matsuda: Sempre estive dentro da sala de shape, presenciei muitos shapers fazendo pranchas e até já me arrisquei a fazer pranchas convencionais, como a mini-simmons que tenho até hoje, mas nunca trabalhei com esse tipo de material.

O que me trouxe a este movimento foi a facilidade em lidar com madeira que adquiri quando trabalhava com meu tio fazendo vasos de cerâmica. Além disso, sempre tive problemas respiratórios, e se eu trabalhasse com resinas, poliuretano, isopor, acredito que não faria muito bem para minha saúde e a minha carreira seria muito curta! (risos)

Aprendi shapear Alaias, Paipos e Handplanes no Japão em Kanagawa-ken com Yuichi Endo um shaper muito experiente e um grande amigo que me deu essa oportunidade de conhecer esse ofício.

M&A: Acredito que morar no Japão deva ser uma experiência muito intensa e marcante. Não ouvimos muita história sobre o surf por lá. Como é o surf no Japão? É muito diferente do brasileiro ou do resto do mundo?

Matsuda: Acho o surfista japonês bastante evoluído culturalmente, eles têm muito conhecimento sobre a história do surf, pranchas, equipamentos.

Hoje o Japão sedia o The Alley fish fry Japan e o Greenroom festival, que são importantes festivais de cultura-surf mundial.

Vejo também que eles não se preocupam muito com a performance, tanto que não vemos muitos surfistas japonese se destacando em grandes campeonatos ou no ranking da ASP .

No mar o numero de surfista é muito grande, bem parecido com o Brasil, vemos surfistas de todas as idades, mas não vemos conflitos ou brigas, tem um "crowd" organizado (risos).

M&A:Existe certa dose de arte quando um bom shaper desenha uma prancha de surfe. Todas as curvas do shape, cada detalhe, possui uma intenção, seja voltada para algo funcional, que beneficie uma manobra, tipo um de onda, ou mesmo uma intenção estética, conceitual, remetendo a uma época ou um estilo de vida.


O que você busca quando desenvolve suas pranchas de surf?

Matsuda: Procuro conciliar o lado funcional com a estética, gosto de imaginar o movimento da água quando a prancha entra em contato com a onda o caminho que ela percorre. Acredito que o funcional e a estética andam sempre lado a lado.

Você sabe aquelas pranchas que te olha o outline e as curvas e diz: essa prancha deve funcionar bem? 



Andrew Serrano mostrando como se surfa com uma alaia.  Foto Jair Bortoleto.



M&A: Eu sei que fazer uma prancha de madeira não é tão simples como parece. Qual é a dificuldade de construir pranchas de surf de madeira? Fale dos materiais e do processo de trabalho.
Matsuda: Cada placa de madeira tem suas particularidades, elas variam muito entre peso, flexibilidade, densidade e qualidade. Antes de fazer qualquer prancha, preciso analisar a placa para saber qual melhor destino, seja um handplane, uma alaia ou paipo.

Como se trata de madeira, para se conseguir curvas , fundos, bordas é um pouco mais difícil, e para isso usamos ferramentas apropriadas para madeira. Mas para selar a prancha e bem simples, pois necessitamos apenas de um pedaço de pano e os óleos e cera certos. 

M&A: Hoje está cada vez mais comum a mecanização no mercado de pranchas de surfe convencionais, mas sabemos que o seu trabalho ainda é artesanal. Qual diferença entre uma prancha feita de forma manual para outra em processo mecanizado?
Matsuda: Meu trabalho em todos os processos é feito artesanalmente. Hoje acredito que meu publico me valoriza e compra meus produtos exatamente pela forma de trabalho que venho executando.

Acho que as máquinas de shape são validas para os shapers que fazem pranchas de alta performance e precisam fazer modelos padronizados para os atletas, ou os que buscam esse auxilio da máquina para uma maior demanda do mercado.

Mas a máquina e feita para auxiliar o shaper e não tomar o lugar dele, o shaper antes de usar essas máquinas precisa saber fazer muito bem pranchas manualmente e ter um bom conhecimento, ou então à arte da profissão acaba.

M&A: Temos visto no Brasil o surgimento de revistas de surf, mídias digitais e programas de TV com maior abrangência, isto sem falar no braziliam storm e uma enxurrada de excelentes surfistas representando o país mundo afora. Como avalia o momento do esporte?
Matsuda: Apesar de eu não acompanhar muito campeonatos de surf, os surfistas brasileiros são muito competitivos, têm muita garra e estão representando bem o Brasil. Se levarmos em conta a qualidade das ondas no Brasil e o apoio que esses surfistas têm no início da carreira, já são vitoriosos. 

Nisso tudo, o que me assusta um pouco são grandes empresas que não tem ligação nenhuma com o surf, patrocinarem campeonatos e surfistas. Qual é o intuito? Para mim é apenas uma jogada de marketing, acredito que essas empresas não conhecem o real sentimento que o surf traz aos seus adeptos.

M&A: Existem lugares que desempenharam um papel histórico para o surf. Austrália, Califórnia e Havaí são exemplos clássicos de destinos que muitas gerações de surfistas optaram para continuar próximos ao universo do esporte. Em sua opinião, é possível trabalhar e viver aquele estilo de vida hoje no Brasil? 
Matsuda: Acredito que sim, este é o estilo de vida que estou buscando para mim e minha família. Porém, as dificuldades são maiores do que lá fora.

Vivo uma vida bem simples, mas amo meu trabalho e minha família, e hoje consigo ir surfar com minha filha, desfrutar bastante da natureza e ter uma vida saudável. Somos bem felizes, e acho que isso e o mais importante.