domingo, 16 de dezembro de 2012

A alaia que virou skate


O fisico Antoine Lavoisier já dizia: na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. 




Teste drive do novo long de asfalto na G10 da Unicamp

Encontrei no terreno de um amigo uma tábua de pinos com 1,5 m de altura por 40cm, com 4 cm de espessura e pensei: esta vai se transformar em um prancha de surf...



Desenho inicial da prancha que virou skate

Levei para a oficina e comecei o trabalho, mas eis que me deparo com um pedaço considerável da madeira podre. Foi aí que a teoria da conservação da massa me inspirou: nada se perde, tudo se transforma, não? 



O tempo implacável e a madeira.
Uma prancha de surf de madeira precisa ter um tamanho minimo para flutuar e ser surfável, mas e um skate de madeira maciça, construído igual a uma prancha, como seria? 

O projeto continuou normalmente, primeiro  com a serra tico-tico demos o formato do shape e depois cortando-o ao meio. Um filete de madeira foi colocado entre as partes como longarina, fixado com cola e pequenos pedaços de madeira, chamados cavilha.


Prendendo a longarina com cavilhas de madeira

A longarina serve para das maior força às pranchas de surf e evitar que empenem (entortem) facilmente. Os shapes de skate não precisam deste artificio, pois a madeira compensada é bastante estável, mas como esta é uma madeira maciça, e a proposta é fazer um shape de skate igual seria uma prancha, mantivemos a proposta.



Peças encaixadas

Para garantir que o conjunto não soltaria com uma pancada forte de bico, e para dar um estilão, coloquei uma madeira mais forte (madeira de lei) no bico e na rabeta. E convenhamos, ficou muito style!



Skate Longbord, parecendo um missil


O acabamento final foi com verniz náutico, e lixa transparente.



Shape estilo longboard
Lixa transparente para manter desenho da madeira
Parte de baixo
Cavilhas que fixam o bico desenham dois olhos

Teste drive foi na tradicional ladeira G10 da Unicampi 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pranchas de Surf que Marcaram a História

Texto Madeira & Água publicado em: Waves

O surf tem mudado desde as origens em um processo de mutação incessante. Podemos ver isto de muitas formas, na cultura que passou de sagrada para marginal e hoje é um produto rentável comercialmente. Outra maneira de encarar este desenvolvimento tortuoso é pela evolução do design das pranchas.

Muitas pranchas marcaram história e não é por menos, o shape, e os materiais mudam a forma de surfar, as manobras, o tipo de onda e consequentemente a imagem do esporte. Chegamos aonde estamos por causa de muita evolução nas tabuas de surfar. 

ANCIENT BOARDS



As primeiras pranchas são a base de tudo que existe hoje. O paipo, talvez a prancha mais antiga da Polinésia, era como um body board, servia de lazer para crianças, adultos, homens e mulheres. As alaias eram uma prancha sem quilha de madeira maciça construída no Havaí até as primeiras décadas do século XX. Os caras eram os melhores navegantes da época, seja em canoas grandes, pequenas ou, numa tabua. Os reis e nobres tinham pranchas especiais, feitas com madeiras mais leves e muito compridas chamadas olo, ideais para remar em alto mar e surfar ondulações oceânicas.

ALAIAS MODERNAS


Quando os norte americanos anexaram o Havaí ao seu país encontraram um povo quase nada dos antigos costumes nativos. Mesmos assim, alguns havaianos como o lendário Duke Paoa Kahanamoko e o salva vidas George Freenth difundiram o esporte pela América. Quando as pranchas de surf começaram a ser construídas nos EUA, aproveitaram-se colas e madeiras mais leves, modernizando as pranchas ancestrais.

HOLLOW BOARDS



Se Duke foi um dos principais personagens que tirou o surf do ostracismo, Tom Blake foi o figura que mais contribuiu à evolução do esporte na América. As pranchas de surf da época pesavam dezenas ou centenas de quilos, primeiro Blake inventou as hollow bords (pranchas ocas), consideradas a tecnologia mais avançada, depois ele criou um estabilizador, considerado a primeira quilha.

SIMMONS BOARDS 1950


As pranchas de surf de Bob Simmons foram início de uma revolução no esporte. A princípio ele fez em madeira balsa uma prancha estilo long board e deu acabamento com resina epoxy: maior leveza e flutuação. Em seguida aperfeiçoou as quilhas, inclusive construindo pranchas com duas quilhas! Hoje existe uma releitura deste modelo muito interessante de se surfar, as mini simmons. Esta prancha pose ser considerada o antepassado dos long board, e a inspiração das pranchas fish.

LONG BOARDS 1960


Até os anos 50 as pranchas eram enormes, feitas normalmente de madeira balsa, com acabamento em resina epoxy e grandes quilhas, muito aprecisadas até hoje pelos adeptos do classic long board. Os anos 60 vieram para mudar o surf radicalmente, com a profissionalização dos esporte e dos shapers de pranchas. O bloco de poliuretano deixou a prancha mais leve e com abundância de material (existe muito mais petróleo do que arvore de balsa no mundo). As pranchas começaram a ficar menores e as quilhas deixaram mais rápidas e manobráveis. 

VELO E A REVOLUÇÃO DAS QUILHAS



Outro surfista com grande influência no design das pranchas foi George Greenough. Em meados dos anos 60, ele desenvolveu uma prancha de surf com uma quilha diferente, inspirada no rabo de um atum, diminuiu a largura e aumentou a profundidade, ganhando mais velocidade e curvas muito mais fechadas. O interessante é que ele testou este modelo em uma pequena prancha para surfar de joelhos! Segundo alguns contemporâneos, esta pranchinha também inspirou a nova geração de surfistas a experimentar pranchas menores e mais manobráveis.

EVOLUÇÕES DOS ANOS 70 - PRANCHINHAS


Os anos 70 foram tempos de pranchas que  trouxeram a expressão "radical" para o esporte. A pranchinha monoquilha passou a ser usada em todo canto do mundo, com tamanho muito menor do que se usava 10 anos antes (aproximadamente 6 pés) e uma quilha fina que possibilitava ganhar muito mais velocidade, antecipando-se a onda e manobrando com curvas rápidas. 


GUN 1970



Se as pranchinhas monoquilhas foram unanimes em popularidade, as guns eram o que havia de melhor e mais avançado em termos de prancha e de ondas nos anos 70. Com shape mais fino, rabetas pin tail e tamanho por volta de 7 a 9 pés, estas pranchas possibilitaram surfar ondas antes consideradas impossíveis. 


  TWINS & FISHS 1970


Ainda no caldeirão dos anos 70, surgiam da biquilhas, ou twin fin, consolidando o surf entre os esportes radicais. Se as pranchinhas monoquilha tinham transformado as manobras, as duas quilhas deram um up grade ainda maior! Quando associada com as rabetas fish, permitiam ganhar velocidade e ainda fazer curvas tão fechadas que rasgavam a linha da onda, levando a galera da areia ao delírio. Mark Richards foi o primeiro campeão a ganhar 3 títulos mundiais e popularizou o modelo com duas quilhas, tonando-se um paradigma que ondas pequenas deviam ser surfadas com duas quilhas e ondas maiores com guns (ou semi-guns) de uma quilha.


THRUSTER 1980...


Finalmente chegaram os anos 80 e muita gente pensava que as pranchas de surf tinham chegado no limite da evolução, até o shaper e surfista profissional Simon Anderson aparecer no Rip Curl Pro Bells Beach de 1981 com uma pranchinha de 3 quilhas e ganhar o campeonato com aquela que parecia ser uma ideia bizarra. A prancha batizada de thruster foi um sucesso tão grande que tiraram as monoquilhas e biquilhas do mercado rapidamente. Atualmente os modelos antigos voltaram graças a moda retrô, que resgatou os bons e velhos modelos dos anos 70. Mesmo assim, qualquer surfista de pranchinhas do final do século XX e inicio do século XXI precisa ter uma triquilha no seu quiver.

MULTIFINS EVOLUTION


Todo paradigma existe para ser quebrado, o século XX chegou com outra mudança no shape das pranchas, as mult fin. Nos anos 80 houveram experiências com as pranchas de 4 quilhas, mas a popularidade não foi das maiores. No início do século XXI, grandes nomes do surf resolveram dar uma chance ao modelo, que sofreu algumas alterações e melhorias dando origem a uma nova linha de pranchas com opção para uma, duas, três, quatro e (porquê não?) cinco quilhas, dando a opção de usar, quantas quilhas desejar, dependendo das condições do mar ou do estilo do surfista. 

Hoje o surf está em uma fase em que as manobras e ondas surfadas chegaram a um nível de desempenho nunca antes imaginado, e fica difícil imaginar para onde esta evolução pode continuar. Mas conhecendo a história do esporte e a evolução das pranchas sabemos que a coisa vai continuar andando.

Para que quiser pesquisar os shapes históricos entre no link do site SUFBOARDSLINE.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quiver de parede: quadros de prancha de surf clássicas

Seja a paixão pelo mar, fissura por surf ou esportes com prancha, muitos são os motivos e que levam o verdadeiro surfista a sonhar com uma coleção de pranchas de todo tipo; o quiver dos sonhos.

E não é consumismo, para cada tábua existe uma função, um design certo para cada tipo de onda, além da beleza que vai do simples ao sofisticado. O desenho evoluiu junto com os materiais e o surf se transformou. Hoje, Netuno não consegue mais sossego com tanto aéreo que a molecada anda dando.

 Madeira & Água meteu a mão na massa e fez uma coleção de quadros com um quiver de pranchas históricas. Para cada shape muita história.

Quadro de Guilherme Pallerosi:  Ancient Boards. Venda sob encomenda
Foto: Nelson Mello.
Estas pranchas merecem todas as reverencias, são as ancient boards, ou as pranchas dos antigos; são madeiras talhadas que desciam ondas. O paipo polinésio e a alaia havaiana foram as pioneiras do esporte. 

A alaia evoluiu quando norte americanos passaram a construí-las com madeira balsa e vermelha, dando maior flutuação e beleza ao conjunto. 

As hollow boards, ou pranchas ocas de madeira eram consideradas a tecnologia de ponta das pranchas após meados da década de 30, a rabeta bem fina fazia as vezes da quilha. 
Quadros de Guilherme Pallerosi:  Classic Alaia Ancient. Venda sob encomenda.
Foto: Nelson Mello.

As alaias não tinham quilhas e chegavam a pesar mais de 100 quilos. As pranchas de surf havaianas (papa heʻenalu), assim como as canoas ancestrais (waʻa), eram normalmente construídas com a madeira da arvore Koa (acácia koa). O nome koa significa coragem, e é bastante apropriado para suas funções náuticas. 

Quadros de Guilherme Pallerosi: Classic Alaia 1930. Venda sob encomenda.
Foto: Nelson Mello.

A década de 1930 foi um período muito frutífero para o surf e o design de pranchas. Diferente de hoje, muitas vezes o surfista tinha que construir sua própria prancha, e por isso cada um experimentava uma técnica nova.

Quadros de Guilherme Pallerosi: Classic Gun. Venda sob encomenda.
Foto: Nelson Mello.
Desde a década de 1970 até hoje, as pranchas mais respeitáveis e provavelmente as mais bonitas são as guns. Com o formato de um míssil é a prancha das ondas grandes, rápida como um foguete, ou como aqueles peixes predadores.


Quadro de Guilherme Pallerosi:  Longboard 1950. Venda sob encomenda.
Foto: Nelson Mello.
Na década de 1950, munidos de grandes quilhas e feitos com madeira balsa ou com os primeiros blocos de poliuretano, surgiam os longboards. Os pranchões inauguram uma nova era em que se passou a explorar novas ondas e manobras em que os surfistas caminhavam com muito estilo nas pranchas.
Quadro de Guilherme Pallerosi:  Longboard 1990. Venda sob encomenda.
Foto: Nelson Mello.
Durante os anos 80, enquanto as pranchinhas com três quilhas se tornavam unanimidade nas ondas, alguns surfistas voltaram a construir longboards, no entanto mais modernos e com melhor performance. Ficaram conhecidos como as pranchas dos locais e veteranos, pois conseguiam pegar a onda antes e com menos esforço, por sua remada forte e maior flutuação.
Quadro de Guilherme Pallerosi:  Thruster. Venda sob encomenda.
Foto: Nelson Mello.
Thruster foi o nome dado para a primeira pranchinha com tres quilhas no início da década de 80. A terceira quilha e o desenho lapidado durante a década de 70 é o modelo de prancha mais famoso entre surfiscas desde a década de 80 até hoje, preferidas dos profissionais e amadores.

Caso tenha interesse em adquiri um quiver de pranchas para sua parede entre em contato em madeira.e.agua@gmail.com e se informe dos preços, modelos e prazos de entrega. 

sábado, 3 de novembro de 2012

Surf e novos paradigmas



Algo diferente vem acontecendo no mundo do surf, visível nas praias, dentro do mar e até descendo as ondas. Este mercado vem se profissionalizando desde a década de 1970, tornando-se um dos estilos mais populares na industria da moda, o surfwear. Junto disto vieram revistas de surf, campeonatos disputados entre atletas e marcas, além de uma significativa industria de turismo espalhada pelo mundo. Outro subproduto do esporte (talvez o mais rentável) é a imagem do surfista, que passou de rebelde e alienado, para para saudável e descontraído. Nos últimos 20 anos vimos acontecer a massificação do surf e pasteurização da sua imagem.

Por bastante tempo, surfista tinha só um estilo de se vestir, assim como as pranchas de surf eram de modelos limitados, longboard era coisa de velho e meninas no mar, só se fosse de body board. Bem, isto continua sendo o pensamento de boa parte das pessoas do meio, mas algumas coisas vêm indicando mudanças de tendências, ou uma maior flexibilidade no "mercadão" do surf. Vemos hoje todo tipo de prancha na água, mono quilha, biquilhas, as quadfins, mini simmons, alaias e por aí vai. Um dos precursores desse movimento foi o shaper australiano Tom Vegener.

Tom Vegener e a redescoberta do surf ancestral

Este é o nome do responsável por trazer de volta as tradicionais pranchas de surf alaia, feitas de madeira maciça, em um tempo em que todo surfista surfava com pranchas leves como espuma e com três quilhas.  Tom redesenhou as pranchas milenares e descobriu um novo surf, voltado essência do esporte. A ideia conquistou uma série de surfistas que passaram a produzir suas tábuas de surf, assim como faziam os antigos havaianos. O próprio Tom Vegener vende pranchas de madeira shapeadas ou apenas a tábua de madeira paulownia para o surfista shapear no seu estilo.



Shapers de alaia, Tiago Matulja, Kiko Horácio, Bernardo Sodré, Rodrigo Matsuda, 
Gregório Mattos entre os pioneiros do Brasil.

Todo o trabalho deste pioneiro está documentado no youtube em uma palestra chamada "Wood is good", em que ele conta as motivações, o processo  de resgatar estas pranchas ancestrais, encontrar a madeira ideal e transforá-las em modelos novos, com designs funcionais.  








No Brasil já existem shapers-marceneiros especializados em alaias que, muito além da construção e reprodução de pranchas, possuem designs e estéticas muito bem trabalhados. O interessante é observar nesta nova corrente uma sofisticação muito essencial, diferente do estilo que vemos nas grandes marcas (é possível dizer que algo é ao mesmo tempo sofisticado e simples?). Assim como a busca por outros tipos de prancha de surf e experiências, percebemos uma vontade de se reinventar no movimento das alaias.
  
Para conhecer algum destes trabalhos, tendências e talentos nacionais veja a  Lasca SurfboardsUmbe  Aerofish e a Flora Ecoboard

Primeiríssima qualidade...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Madeiras para contrução de prancha de surf

Nas ilhas polinésia, na costa do Atlântico e em vários cantos do mundo, as canoas nativas selaram nosso casamento com os mares. Um único pedaço de madeira navegável, canoas e pranchas são irmãs, feitas do mesmo material e princípios. No Havaí, os nativos construíam canoas capazes de atravessar um oceano, e como se não bastasse,nas pranchas de surf mostravam suas habilidades nas ondas fortes do arquipélago. No Brasil, uma enorme costa e os infinitos rios também eram navegados por canoas de todo tipo, tudo graças às muitas espécies de madeira e conhecimentos indígenas. Ao longo dos anos, o surf tem se beneficiado de diferentes tipos de madeira, cada uma com funções e histórias diferentes.


As madeiras possuem propriedades físicas, mecânicas, químicas, biológicas, mas vamos direto ao ponto. Uma das madeiras considerada mais leve é a balsa, com 160 kg/m³ e a mais pesada é o pau santo com 1200 kg/m³. Madeiras leves são porosas e normalmente possuem maior flutuação e flexibilidade, mas frequentemente absorvem umidade, empenam e estragam facilmente. Por outro lado, madeiras mais densas são mais duras, impregnadas de resina impedem que o sol, a umidade, fungos ou insetos estraguem ou empenem. A desvantagem é que são pesadas e não boiam tanto. Mas vamos às madeiras mais usuais para construção de pranchas de surf e suas histórias: 

Prancha alaia havaiana e canoa polinésia feitas com madeira koa

KOA (Havaí) - As pranchas de surf havaianas (papa heʻenalu), assim como as canoas ancestrais (waʻa), eram normalmente construídas com a madeira da arvore Koa (acácia koa). O nome koa significa coragem, e é bastante apropriado para suas funções náuticas. A koa é muito comum em todas as ilhas do Havaí, gosta das cinzas vulcânicas e cresce rápido. Com ela eram feitas as pranchas alaias (entre 2 e 3 metros) e paipos (entre 1 e 0,5m), reservadas às pessoas comuns. Porém, madeira boa para construir canoa não pode deixar na mão e tem que ser forte, por isso faz a prancha de surf mais dura e pesada. Conta a favor o fato de possuir alguma flutuação, e ser difícil de empenar e estragar com o mar e o sol constante, além de ser muito bonita. Quando as pranchas de surf passaram a ser feitas também nos EUA, as madeiras mais semelhantes foram às vermelhas. No entanto, os velhos nativos havaianos por muito tempo insistiam, nenhuma madeira vermelha se compara a velha koa para descer ondas. 


WILIWILI (Havaí) – Esta é a madeira que se faziam as respeitáveis Olo, pranchas de surf da nobreza havaiana. As pranchas reservadas aos reis e nobres, feitas com madeira da arvore wiliwili (Erythrina sandwicensis) chegavam a ter 6 metros de comprimento, eram muito finas e com fundo arredondado. A wiliwili é uma madeira bastante leve e com ótima flutuação. Pelas propriedades da madeira e design da prancha, a olo era um pranchão muito rápido, bom para entrar nas ondas havaianas com segurança. 


BALSA (América do Sul) – O Peru é lar do ancestral surf em canoas de junco, e usavam troncos de madeira balsa amarrados para construir grandes jangadas, conhecidas hoje pelo mesmo nome, “balsa”. Esta arvore cresce desde a América central até o norte do Brasil. Na primeira metade do século XX passou a ser usada, entre outras coisas, para construção de pranchas de surf, um marco na evolução do esporte durante a década de 30. A arvore Balsa cresce relativamente rápido, pode chegar a 30 metros de altura e não vive mais do que 40 anos. No entanto, os nativos peruanos usavam o tronco bruto da arvore, pois a seiva conservava a madeira. Para pranchas de surf, a madeira tende a encharcar, perder a flutuação e se desfazer, e por isso passaram a receber tratamento com vernizes e posteriormente com resina e fibra de vidro (glass). As primeiras pranchas com balsa eram mescladas com outras madeiras mais duras, acrescentando resistência ao conjunto. Hoje, graças ao desmatamento e aos aeromedelistas, custam muito caro. 



PAULOWNIA - Este é o nome popular de uma espécie de arvore nativa da China, Laus e Vietnã. A paulownia possui um crescimento muito rápido (aproximadamente 7m no primeiro ano), com inúmeras funções comerciais, tem sido muito usada como madeira de reflorestamento no Japão, Coreia e atualmente na Austrália, Esta arvore ficou conhecida como matéria prima para construção de pranchas de surf alaia graças as experiências do shaper australiano Tom Wegener, que se tornou uma referência na releitura das pranchas de surf primitivas, construindo alaias com novos designs funcionais. O uso recente da paulownia em pranchas de surf é devido o fato de misturar propriedades de leveza, densidade média e resistência (quase não empena), além de ser impermeável, não necessitando tratamento com resina (glass). Outra vantagem está no fato de existirem em abundância, pelo menos na Austrália e na Asia, diferente da balsa, difícil de encontrar. 


AGAVE – Esta tem sido uma solução encontrada recentemente para construção de pranchas de surf de madeira. O agave é uma planta que faz parte da paisagem do México, das folhas extraem o sisal (palha com inúmeras aplicações) e da seiva destilada, a tequila. O agave é uma espécie exótica, trazida ao Brasil para uso em paisagismo e produção do sisal, tornando-se espécie invasora. O ciclo da planta é de 6 a 7 anos, quando desenvolve grandes folhas pontiagudas, e no final da vida desenvolve um tronco que chega a 10 metros de altura de onde nascem as sementes. Depois de reproduzir, a planta morre e seca. Sobra o tronco com uma madeira que chega a ter densidade menor que a própria madeira balsa, isto é, muito leve. A produção de pranchas de surf com bloco de agave é pelo mesmo processo das pranchas de surf de poliuretano convencionais, devendo receber acabamento com resina epoxy. O uso do agave para fins náuticos (principalmente pranchas de surf) ainda é recente, mas o material mostra-se muito conveniente, visto que aproveita o subproduto de uma planta no final do ciclo. No entanto, ainda muito difícil de ser encontrada no mercado. 

No Brasil existem inúmeras espécies de arvores nativas, usadas pelos índios como embarcação e protegidas pelos primeiros portugueses, tornaram-se conhecidas como madeira de lei. Mas é preciso uma análise mais detalhada, e fica para outro post...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sobre Árvores, Madeira e Construção Naval

Estamos iniciando uma série de matérias que falam da construção de canoas e pranchas de surf de madeira numa perspectiva contemporânea, mas resgatando conhecimentos ancestrais da carpintaria e construção naval.
Para falar de pranchas de surf e canoas antes devemos antes citar a “pedra fundamental” da navegação, da conquista dos mares e tudo o que veio depois, isto é, a manipulação da madeira. A arte de manejar este recurso natural em técnicas de carpintaria, construção naval e marcenaria podem tomar ares míticos e exige todo o respeito, afinal é um ofício dos mais antigos, desde os nativos da Polinésia, África e América, aos hebreus (Jesus era carpinteiro), árabes, nórdicos e europeus, em todos os cantos do mundo existiram carpinteiros e marceneiros.
Em reverencia aos mestres na arte de manipular a madeira iniciamos a sessão de matérias sobre construção de canoas e pranchas de madeira resgatando algumas informações sobre escolha da arvore e preparação da madeira. Apesar destas informações não serem tão úteis nos dias de hoje, em que encontrar as arvores certas é uma missão dificílima e derrubá-las é crime, a matéria serve para lembrar culturas que estão entrando no esquecimento e foram as bases do surf, assim como da navegação.

Da arvore à madeira

A escolha da arvore se dá pela madeira, portanto, antes de escolher o indivíduo deve conhecer suas propriedades. Antes do corte de uma arvore para construção de qualquer embarcação, deve ser feita uma inspeção minuciosa, observando a superfície do tronco, procurando os nós, cicatrizes, fendas, ou fibras muito torcidas com e nós profundos. Batendo com algum objeto ao longo do tronco percebem-se variações do som, indicando diferentes densidades, possivelmente por motivo de doença ou apodrecimento prematuro. Após o corte outros sentidos também permitem certificar-sedo tipo de madeira, a fase de preparo e a hora de trabalha-las. A cor permite saber facilmente se a arvore teve alguma doença, devido mudanças bruscas, vista em um corte transversal. Cada espécie possui um cheiro característico, especialmente depois de seca.

 

A época ideal para extrair a madeira varia segundo a espécie e região, mas de forma geral costuma ser no início do inverno, assim que as folhas caem, quando acontece o repouso vegetativo. Estes procedimentos possuem relação com a circulação da seiva, pois nos meses de primavera, verão e princípio do outono os troncos ainda estão impregnados de alimentos para folhas, flores ou frutos, aumentando o tempo secagem e prejudicando a conservação da madeira, pois as substâncias que compõe a seiva atraem fungos e insetos. Outro fator que influencia o corte da arvore é a lua. As fases minguante e nova costumam ser melhores, os períodos de maré cheia está relacionado com maior quantidade de seiva nas arvores.



Após o corte é essencial à seiva secar completamente, assim como a retirada da casca, que dificulta a secagem e esconde larvas e insetos que corroem o tecido lenhoso. Para secagem existem muitas técnicas, atualmente o mais comum é ao ar livre, em galpões ou estufas, sendo que, mais importante que manter a madeira coberta é não deixa-la em contato com o solo. No entanto, para construção naval existem tradições muito eficazes na secagem da seiva que garantem grande durabilidade à embarcação. O costume é mergulhar o tronco em água doce (rios e lagos), ou na agua salgada do mar. O mais aconselhável é deixar no lodo das zonas estuarias (rios que desembocam no mar), evitando o apodrecimento prematuro ou o aparecimento de fendas. O mais espantoso são relatos de que, dependendo do tipo de madeira e espessura do tronco, a secagem poderia durar de 3 a 10 anos.

Produtos e cuidados para conservação da madeira

A durabilidade depende primeiramente da secagem da seiva. Sendo assim, a principal forma de tratamento da madeira é mantê-la seca e arejada ou totalmente mergulhada na água, pois madeiras imersas não apodrecem ou apodrecem muito lentamente. É muito comum encontrarmos ao longo do litoral brasileiro, canoas afundadas na água, pois rios, lagoas e principalmente o mar evitam o apodrecimento muito melhor do que os produtos disponíveis no mercado e sem custo nenhum.


Canoa em repouso, água conserva a madeira.
A água não estraga madeira, mas a constante mudança de ambientes secos para úmidos causam dilatação e contração da madeira, causando fissuras com o tempo. Dessa forma, o tratamento mais tradicional para canoas ou cascos de pequenas embarcações de madeira é com soluções oleosas ou ceras que evitam que a madeira encharque ou sequem completamente. Estes produtos podem ser de origem animal (óleos de peixe, cera de abelha), vegetal (cera de carnaúba, óleo de linhaça), ou mineral (betume, asfalto diluído em diesel, óleo queimado). Estes produtos são bastante eficientes para conservar embarcações rusticas, como canoas, mas necessita a madeira estar bem seca para a primeira aplicação.  

Nativo havaiano passando óleo de Kukui (óleo de nozes) na tradicional canoa polinésia.

Outras soluções industrializadas contribuem para conservação da madeira, como o alcatrão, alvaide, ACA, CCA, CCB, sais de cobre, cromo e arsênio aplicados em auto-clave, todos com boa eficácia e disponíveis no mercado. A aplicação dos produtos pode ser por imersão, pulverização, pincelagem, ou ainda banho quente-frio (madeira é aquecida por várias horas e depois imersa em solução que permite grande penetração e absorção a vácuo).Caso sua embarcação não seja uma canoa ou prancha de surf tipo Alaia, as madeiras com tratamentos industriais podem ser uma boa opção, pois óleos e cerras dificultam aplicação de resinas epoxy ou poliéster.

Colas e outros métodos de impermeabilização

Madeiras coladas podem desempenhar funções melhor do que tábuas maciças, por aguentarem maior flexão. A chamada cola de marceneiro é uma das mais antigas, conhecida também como cola animal é feita a base de pele, cartilagem e osso de animais. Vendida em pó, quando em banho-maria se torna gelatinosa e fácil de aplicar, e depois de seca fica dura e impermeável, penetrando nos tecidos da madeira. As colas sintéticas disponíveis no mercado para carpintaria naval é a Cascophen (resorcina-formol), que leva um catalizador no preparo e serve para qualquer tipo de ligação, incluindo-se imersas em água. Outra opção é o Epox (resina epoxida), uma das colas e resinas de isolamento mais eficaz da carpintaria naval, usadas proteger, colar e impermeabilizar desde cascos de barco a pranchas de surf, e por isso merece um paragrafo específico.


Prancha de surf de madeira com acabamento em epoxy.

O método mais conhecido de impermeabilização das modernas pranchas de surf de poliuretano são as resinas de poliéster, no processo que chamamos de glass (vidro). No entanto, as resinas poliéster possuem pouca aderência à madeira. Já as resinas epoxy são a melhor solução para impermeabilização das pranchas de surf de madeira, assim como os cascos de barcos, dando o mesmo acabamento do glass em poliéster e uma resistência ainda melhor quando aplicada com tecido de fibra de vidro. O tipo especifico de resina para construção de pranchas (existem muitas variações de resina epoxy e catalizadores) e a forma de uso fica a cargo dos fabricantes, vendedores ou shapers.


Lancha de madeira com acabamento em epoxy.

Para saber mais de construção naval, madeiras, colas e resinas, aconselhamos os seguintes links:

Madeira: Uso e Conservação
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCIQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.monumenta.gov.br%2Fupload%2FCaderno%2520Madeiraweb_1173383037.pdf&ei=CEVXUJucEcWiqwG8vYA4&usg=AFQjCNHDqxfm_9hY2HwIcVJxruTXhaM77w

Inovação na Construção Naval e seus Compósitos – Caderno 1
http://content.yudu.com/Library/A1nf9l/Inovaonaconstruonava/resources/index.htm?referrerUrlhttp%3A%2F%2Fwww.ain.pt%2Findex.php%3Fmod%3Darticles%26action%3DviewArticle%26article_id%3D169%26category_id%3D70

Inovação na Construção Naval e seus Compósitos – Caderno 2
http://content.yudu.com/Library/A1nf9k/Inovaonaconstruonava/resources/index.htm?referrerUrl=http%3A%2F%2Fwww.google.com.br%2Furl%3Fsa%3Dt%26rct%3Dj%26q%3D%26esrc%3Ds%26source%3Dweb%26cd%3D10%26ved%3D0CI8BEBYwCQ%26url%3Dhttp%253A%252F%252Fcontent.yudu.com%252FLibrary%252FA1nf9k%252FInovaonaconstruonava%252F%26ei%3DR687UIarKuqx0QGkroD4Cw%26usg%3DAFQjCNEjNWzpabDTJ2aPI9Ftrknzcx9ffw

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Surf Moderno e o Ancestral


Surf em pranchas Alaia e busca da identidade perdida.
Para quem não sabe, as pranchas de surf de madeira estão de volta. Elas voltaram de forma tímida nos anos 80 e 90 e agora estão se tornando comuns, mas ainda não populares. Alguns shapers-marceneiros começaram a construir modelos novos com técnicas e materiais modernos, criando uma rede de adeptos em todo o mundo. Talvez esta não seja uma tendência de mercado, mas o movimento tem crescido principalmente nas garagens e oficinas de surfistas amadores. Neste caso, amadores no sentido de pessoas que gostam muito de surf, pois a construção destas pranchas pode não ser coisa para principiantes, afinal são muito mais difíceis e artesanais do que as pranchas com blocos de poliuretano ou similares. Por este motivo também, preço de uma prancha de madeira pronta, pode ser muito maior do que a média das pranchas disponíveis no mercado.


As pranchas de surf de madeira ligam dois tempos, um muito antigo, repleto de técnicas e conhecimentos ancestrais e passados oralmente para a construção de pranchas, canoas e pequenas embarcações. Outra é a época atual, com grande acúmulo de tecnologias e designs avançados.Desta forma, um shaper de prancha de madeira precisa se informar tanto sobre as resinas e colas certas para o tipo de madeira, o design ideal para o modelo, como as técnicas e conhecimentos tradicionais, manhas de marceneiros, madeireiros e construtores de embarcações ancestrais. Mas o que motiva uma pessoa à construção de uma prancha em madeira, diante de um mercado tão rico em opções de pranchas? 

Primeiramente, comprar ou construir uma prancha de madeira não significa abdicar-se de surfar com pranchinhas de espuma e todas as vantagens das novas tecnologias, isto é, as pranchas de madeira costumam ser especiais para condições de mar específicas, de acordo com o modelo que foi projetada. As novas tecnologias de construção naval unidas com técnicas, materiais e designs de confecção das pranchas modernas permitem conceber modelos com desempenho muito próximo ao das pranchinhas atuais, surfando ondas grandes ou pequenas, cavadas ou gordas, com manobras ou clássico, de acordo com o seu tipo de surf.

Prancha de madeira tipo Hollow: primeiras inovações.
Outro ensejo é pelo fato de que todo surfista experiente um dia passa se interessar por outras formas de surf, faz parte experimentar outras modalidades, seja um longboard,SUP, Kite surf, ou em casos especiais aprender a pescar, velejar ou remar canoas em alto mar. Isto porque o surf não é um esporte isolado, mas uma atividade junto ao mar que não se limita a descer ondas. Para evoluir no esporte é necessário saber de vento, maré, meteorologia, hidrodinâmica, etc, e por isso, nada mais natural do que conhecer outras modalidades e sensações. As pranchas de madeira oferecem uma experiência única neste sentido, alguns projetos de prancha exigem destrezas de um caiçara em sua canoa ou um antigo polinésio.Finalmente, a vantagem da prancha de madeira é que,se bem construída e cuidada pode durar anos ou décadas, por isso devem ser muito bem feitas, pois não são descartáveis.

Novos modelos de prancha de madeira tipo Hollow: o ancestral e o novo.
Mas antes de empreender um projeto destes, ou despender um dinheiro para encomendar uma prancha de madeira, vale a pena pesquisar sobre os modelos, técnicas, etc. Existem as pranchas ancient que são cópias ou releituras das antigas alaias (tábuas, no idioma dos antigos havaianos), feitas de madeira maciça; hollowboards (prancha oca), com um esqueleto interno semelhante aos barcos, e uma infinidade de modelos híbridos, que unem técnicas novas e permitem desempenhos mais próximos ao estilo de surf moderno. Talvez, um dos melhores endereços para iniciar uma pesquisa sobre pranchas de madeira é o blog australiano Wooden Surfboards, onde shapers do mundo inteiro postam fotos e relatos de suas criações. 

Wooden Surfboard Day, em Gold Coast AUS, 
reúne shapers e surfistas construtores de prancha de madeira
Os próximos posts do Madeira & Água irão resgatar informações e técnicas da construção de pranchas de surf de madeira, assim como história e sabedorias dos artesãos de pequenas embarcações tradicionais. Acompanhem!