segunda-feira, 17 de junho de 2013

Bozer 1971: sobre pranchas de surf, design e inovação.

Texto Madeira & Água publicado em: Waves, Almasurf

O surfe é mesmo um esporte singular, descendente da antiga cultura polinésia, se tornou referência em design e estilo de vida. Isto só foi possível porque manteve certa essência viva (aloha) sob o signo da inovação. As pranchas evoluíram espontaneamente, e com elas o estilo de surfar e as manobras.
Entre meados dos anos 60 e início dos anos 70, inovações fizeram do surfe uma referência em esportes de ação, um misto de beleza plástica em meio a natureza selvagem. 
 
A prancha de surf Bonzer foi criação de dois adolescentes australianos dos anos 70. Esta prancha foi um presságio de muitas inovações que surgiriam décadas depois, o modelo quase caiu no ostracismo e hoje faz parte da história do esporte. O vídeo abaixo é uma é uma relíquia que mostra como o design da Bonzer influenciou o estilo de surfar, junto com  outros modelos desta época (veja Magic Sam e Fish)    


Os irmão Malcom e Duncan Campbell desenvolveram o modelo em 1971, com o mesmo intuito que tantos outros shapers amadores (ao pé da letra) da época: construir uma prancha que surfasse ondas grandes com velocidade, movimento e estabilidade. De fato, as monoquilhas funcionavam bem em ondas grandes, mas tinham um desempenho limitado em ondas pequenas, enquanto as biquilhas possibilitavam altas manobras em ondas pequenas, mas perdia a estabilidade quando o mar crescia.



Peter Townend e sua Bonzer em1974.

A Bonzer foi a primeira prancha com 3 quilhas, mas o modelo só cairia na graça de todos os surfistas 10 anos depois com a prancha Thruster de Simon Anderson. Este fato mostra bem como acontecem as inovações, como diria o físico Antoine Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O design das pranchas e o estilo de surfar, tudo possui genes das gerações anteriores, nenhuma ideia surge do nada, são a continuidade de outras.
 Inovação das pranchas nos anos 70.

Foto: arquivo dos irmão Cambell.
 A Bonzer usa conceitos de hidrodinâmica para fazer um modelo de prancha que possibilitasse obter mais velocidade em linha reta e ter pivot e controle em curvas rápidas. Estes modelo de prancha pode parecer um pouco bizarro, mas os princípios  estão presentes nas pranchas mais avançadas, responsáveis pelos surfistas de hoje voarem.

Princípios da Inovação.
Foto do site surf search.

domingo, 2 de junho de 2013

Outras revoluções dos anos 70: design e surf

Texto Madeira & Água publicado em: Almasurf

Enquanto os anos 60 foram palco para muitas revoluções culturais, os anos 70 seguiram quebrando tradições e paradigmas, principalmente no universo do surf e nas praias pelo mundo. Todas estas mudanças inspiraram transformações radicais no design das pranchas e no estilo de surfar. Enquanto o surf em pranchões dos anos 50 e inicio dos 60 desenhavam linhas abertas, as pranchinhas com duas quilhas pareciam voar, rasgando a superfície da onda, entrando e saindo do tubo, acelerando e voltando. Os tempos mudaram e as biquilhas estão para o punk rock, como os pranchões estavam para a bossa nova.
O vídeo Lis Fish mostra imagens do primeiro modelo de prancha fish, em uma sequencia de surf com muito estilo . Com a fish biquilha, surfistas criaram manobras inimagináveis até início dos anos 70! Veja o filme e entenderá tudo!



O marco zero desta prancha foi forjado por lendas do surf como Steve Lis, Reno Abellira, Jeff Ching e Mark Richards ao longo dos anos 70. O vídeo mostra todo o potencial do recém-inventado shapefish, além das duas quilhas pequenas e muito eficientes.  O novo conjunto shape + quilhas, unido ao talento destes e de outros surfistas da época, trouxeram um novo modo de surfar, muito mais versátil, com manobras fortes, rasgando a onda com muita velocidade e maior controle.

O shape fish é característico por ser uma prancha de menor tamanho (aproximadamente 6’0 pés), uma das precursoras das shortboards, com formato mais oval e rabeta (tail) formando um grande “W”. O inventor desta prancha foi Steve Lis, que no final dos anos 60 surfava de kneeboard (modalidade que se surfa de joelhos). O princípio é simples, as rabetas em “V” (pintail) eram muito boas para ondas rápidas, grandes ou cavadas, mas davam pouca liberdade em curvas fechadas (arcos curtos) e manobras (pivot), logo, a fish é uma prancha com duas rabetas (pintail = “V”, duble pintail = “W”).

Outra inovação são as duas quilhas, invenção do mitico shaper que Bob Simmons havia criado quinze anos antes. As biquilhas (ou twin fin) já tinham caído em desuso, mas Liz aproveitou a ideia, que se encaixou perfeitamente na inovadora rabeta fish. Conclusão, quando o havaiano Jeff Ching foi para California e conheceu Lis, pediu emprestado o seu kneeboard e surfou em pé. Estava criado um dos designs de prancha mais bem sucedidos da história. 


O surfista Reno Abellira mostrou ao mundo (com um estilo inconfundível e belo) o que uma pranchinha veloz e com alto desempenho, pode fazer de tudo em ondas de pequeno e médio porte. No final dos anos 70, Mark Richards fez a sua versão das biquilha inspirada no shape da prancha fish e se consagrou 3 vezes campeão mundial. Esta prancha consagrou uma espécie de surf punk rock!