terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um conto macabro sobre tempo e ambição.

Imagem obtida em http://weheartit.com


O grande dilema do nosso tempo é a falta dele: o sagrado Tempo. 

Tudo começou quando fizemos o grande pacto com o Deus Ex Machina, senhor das tecnicas e todas as máquinas. Assim, de um simples galho fez-se o tacape e a lança para domínio de todos os animais, do arado se fez a agricultura e quando menos se esperava tínhamos Gaia, a mãe Terra, em nosso poder.

As perspectivas eram as melhores, as oportunidades infinitas. Sem demora saímos circunavegando o mundo, nosso território por direito. Nem Posseidon, o deus dos mares, ou Urano, o deus dos céus, puderam nos impedir. O domínio foi ainda maior quando nos aliamos a Apolo e Dionísio, a guerra e a diversão sem fim.

Mas um dia aquele velho pacto gorou, e o grande fiador veio cobrar seu preço. Chronos, o grande deus do tempo, vendo nossa ganância tirou de nós o poder de gozá-lo. Logo as máquinas que nos serviram para a dominação, passaram a nos consumir.

Um dia acordamos e não podíamos nos separar dos nossos aparelhos, que prometendo nos dar tempo (e a história é cheia dessas ironias) nos dominavam como uma droga perversa. Quando menos esperávamos, nos vimos presos, irremediavelmente presos, sempre chamados aos pequenos aparelhos para ler informações inúteis, comentar intrigas, ver imagens que se reproduzem sem fim, pregando os olhos as telas.

Os Deuses podem ser cruéis, e Chronos talvez seja o mais impiedoso aos seres vivos. Nossa  beleza perdeu o encanto, pois as máquinas também podiam manipular a imagem, e mesmo possuindo mais pura perfeição da natureza, o tempo não faz acordos, e a beleza se esvai. Mais uma vez as máquinas prometeram nos salvar, mas tudo o que fizeram foram truques grotescos à vista.
 
A contemplação perdeu o lugar para o acúmulo e a razão tratou de subjugar a sabedoria.  

Paro e reflito sobre o final deste conto macabro e o alarme do relógio diz que é tarde. Vejo as mensagens angustiado. Mecanicamente vou dormir pensando em amanhã.

PS. Agora entendo Nietzche. As coisas são melhor explicadas com uma ajuda dos Deuses mitológicos. Maldito racinalismo!