terça-feira, 13 de maio de 2014

As pranchas de surf de Dom Quixote

Texto Madeira & Água publicado em: Surfguru,
 
Dom Quixote morreu lutando contra moinhos, mas pensava serem monstros. Hoje tem crédito na praça, sabe como é a sutil diferença entre o estranho e o genial.
 
Van Gogh: Dom Quixote de la Mancha


Dizem que foi assim que aconteceu quando o surfista Ricardo Bocão chegou com uma prancha de quatro quilhas nas praias cariocas no começo dos anos 80. A ideia morreu na praia, faltou espaço para o novo naquele momento. Hoje é um modelo consolidado entre surfistas e o mérito da invenção ficou entre o brasileiro e o contemporâneo australiano Glen Winton. No entanto, a prancha de quatro quilhas ficou fora de uso por mais de 20 anos.   

Este e muitos outros fatos curiosos do universo do surf mostram o caminho tortuoso das inovações. O que não podemos é subestimar hoje algumas idéias meio esquisitas. Como aquele sujeito que abandona carreira certa por algo incerto que lhe inspire melhor. Podemos imaginar inúmeros casos como este, mas tenho um especial interesse nos shapers inovadores de prancha. Sejam os novos ou velhas lendas do esporte. Quem foram os grandes gênios do design de pranchas de surf? O que sabemos hoje é que, quase invariavelmente, pensavam pouco afora da caixa. Capiche?

Em um livro sobre tendências que eu li tempos atrás mostrava justamente (tá aqui o link), um pequeno número de pessoas criativas ou abertas à novas experiências, com curiosidade e coragem de experimentar coisas novas. A maioria de nós segue tendências como manadas de boi. E não há nada de errado nisto é a natureza da nossa evolução. 

Por isto dou um salve àquelas pessoas desbravadoras de novas idéias, pois podem ser nossa salvação futura ...ou não. 

Até hoje, os melhores shapers de prancha são surfistas em busca de algum conceito ou sensação. Isto é fato, basta olhar para traz. E assim, entre o beco escuro do ostracismo e a luz da vanguarda, sempre existiram surfistas melhorando o desenho das suas pranchas em busca de alguma essência escondida dentro das ondas. 

Nem a revolução industrial e sua divisão do trabalho mudaram a profissão de quem constrói pranchas de surf. 

Existe algo de Don Quixote neste ofício.




Dando uma subvertida no esquema de Henrik Vejlgaard, fica mais ou menos assim:




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