Existem lugares muito próximos do ideal, parecidos com sonhos, utopias ou as paisagens que eu desenhava no caderno da escola para passar o tempo. Há treze anos, em Burleigh Heads, me dei conta de que estes lugares se mostram ocasionalmente e depois somem da nossa vista. Por isso é bom sempre lembrar deles, pois a busca vale a pena.
Vivendo uma temporada em Gold Coast, cidade grande para os padrões Australianos, sempre que possível corria para as praias do sul, de ônibus, sozinho, com prancha debaixo do braço, um dinheiro para o lanche e uma toalha que funcionava como cobertor na volta para casa. Era um spot de surf a traz do outro, tudo acessível, lindo e com ondas perfeitas. Uma época que não era preciso muito para viver muito bem.
Burleigh Heads. Foto: Sean Scott. |
Pouquíssimas coisas me motivam acordar antes das 6 da manhã no sábado, mas aquele foi um dia atípico! Um swell de sul com ondas de aproximadamente 5 pés e um vento sudoeste, eram as condições perfeitas, diversão garantida. Exceto pela superpopulação de surfistas que iriam povoar as direitas de Burleigh Heads em um dia como aquele, por isto não podia chegar tarde. Foi necessária muita coragem, nem tanto por causa do mar ou das ondas, mas para atender ao chamado do despertador histérico.
Foto: Sean Scott |
Chegando, caminhei para o canto direito, camuflei a toalha e segui a trilha nas pedras beirando o morro. Passando as séries de ondas daquele ponto, você chega em Sharkies, a primeira sequencia da onda em dias clássicos. No mar, apenas eu e três pessoas, três gerações de uma família, um cara de cabelos brancos, o outro parecia ser filho e a menina adolescente, possivelmente neta do primeiro e filha do segundo. A garota, por sinal, era quem pegava as melhores ondas, mas o clima familiar trazia uma áurea tranquila e amigável para o mar de ondas fortes. Logo na primeira onda, alcancei a segunda sessão da onda chamada The Cove, com toda perfeição daquele fundo de areia, e com muita velocidade alcancei The Point, a terceira sessão.
Burleigh Heads é um lugarejo no subúrbio de Gold Coast, onde começa o Parque Nacional Pandanus Trees, uma comunidade com casas espaçadas, algumas lojinhas e cafés. Ao menos era assim quando conheci. A população com aproximadamente 10 mil pessoas e todos parecem ter um relação especial com o mar. Os locais vivem um estilo de vida urbano, mas bastante alternativo ao que conhecemos, talvez influenciados por um passado hippie, unido a toda influencia do surfe no estilo de vida australiano, e vice versa.
Tudo isto, logicamente é a visão do outsider, o viajante olhando um lugar alheio, que parece conviver com o melhor da vida moderna, unido ao bom usufruto da belíssima paisagem australiana. Para algum morador local, talvez não pareça tão perfeito um dia em Burleigh Heads. Mas eu, apreciando a costa, do nascer ao por do sol, depois de completar Rockbreak, a ultima série daquela onda, tive a certeza que era o lugar ideal, construído em minha imaginação durante o colégio, para aguentar o tédio das aulas de matemática. Materializou-se e se foi com o fim do dia.
Irado, muito bom o jeito que você escreve, deu pra sentir como se estivesse lá, vendo aquela família pegando onda junto, vendo o jeito de viver do pessoal. Eu que nem sei surfar to querendo pegar o carro pro litoral e aprender, aprender pra depois ir pra australia hahahaha parabéns pelo post.
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