quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Quilhas: princípios do design




  O design das quilhas é um dos elementos mais sensuais das pranchas de surf, tal como um corpo feminino, possuem formatos harmônicos e cheios de curvas. Em termos práticos elas definem do estilo de surf e possibilitam controle da prancha em diversas situações, como em ondas grandes ou em manobras extremas.
Com a função de absorver a energia do fluxo de água, dando direção e agregando pressão e velocidade, os princípios hidrodinâmicos das quilhas são complexos, mas não se preocupe, quebramos a cabeça para explicar o melhor possível o que os peixes já nascem sabendo. 
Em função de seu desenho, as quilhas podem melhorar ou comprometer o funcionamento de uma prancha de surf e por isto é necessário conhecer as variáveis que influenciam o desempenho do surfista.Atualmente temos uma infinidade de materiais, tecnologias e designs, e podemos fazer a escolha do melhor equipamento compreendendo os princípios contidos em cada desenho. 

Os formatos das quilhas e seus princípios 

Variáveis no desenho da quilha: template, base, ponta , area, profundidade, inclinação e foil.

Pensando o formato básico da quilha como um triângulo, a parte da frente onde fica a curvatura, chama-se template. A parte de baixo é a base, onde medimos o comprimento da quilha. Juntos, template e base formam a área da quilha. Quanto maior a área, mais superfície a quilha terá para empurrar a prancha contra a água e consequentemente, maior drive (direção) terá a prancha. Quilhas com base comprida e maior área costumam desenhar arcos mais longos na onda, isto é, curvas mais abertas e com maior velocidade na cavada. 
Para longborders que surfam ondas grandes ou rápidas, pessoas pesadas, ou que fazem manobras com muita velocidade, exercendo maior a pressão sobre a prancha, aconselha-se as quilhas maiores (com mais área). 

Quilhas com bastante área de contato 
O bico da quilha (ponta ou tip) é a área oposta a base e segue o mesmo princípio, quanto mais área, maior o drive (direção)e a impulsão. As quilhas que possuem a ponta com maior área proporcionam mais impulsão, velocidade e segurança, mas ficam mais presas nas curvas e manobras. Quanto mais estreita a ponta, maior agilidade, porém menor impulsão.Para manobras que jogam muita água ou rasgadas derrapando a prancha, o ideal são quilhas com base comprida e ponta fina. 

Quilhas mais área nas pontas 

Existe outro fator decisivo para o controle da prancha: a profundidade (depth).É o quanto a quilha penetra dentro da água. Se a profundidade da quilha for maior, obtemos segurança e o comando da prancha em uma cavada ou mudança de direção. Por outro lado, maior segurança nas curvas significa atrito com a água, isto é, perda de velocidade. Quanto menor a profundidade, mais velocidade e mais facilmente a prancha irá derrapar (desgarrar). 

Quilhas com maior profundidade

A profundidade está relacionada ou o ângulo de curvatura da quilha. O ângulo é medido entre a linha vertical que parte do centro da base, até o ponto mais alto da quilha. Quanto maior a inclinação do outline da quilha (para trás), mais longo é o arco da curva nas manobras e maior velocidade em linha reta. Quanto menor a inclinação, mais facilidade terá a prancha para pivotear e inverter a direção. 

Quilhas com menor ângulo de inclinação 

Outro aspecto levado pouco em consideração é o chamado foil. Esta é a seção hidrodinâmica da quilha no sentido longitudinal, ou melhor, é a barriga da quilha. O foil afeta a forma como a prancha se move dentro d'água, gerando tanto impulsão (lift), quanto arrasto (drag). Normalmente as quilhas centrais possuem foil equilibrado, enquanto as laterais possuem foil somente do lado de fora. Atualmente as quilhas novas vêm explorando mais os benefícios hidrodinâmicos deste componente. 

Efeitos do foil das quilhas na forma de surfar

Finalmente, a capacidade de flexão e deflexão da quilha é uma variável a serem consideradas. Da mesma maneira que um arco e flecha, quanto maior a flexão e mais rápida a deflexão, maior a impulsão. Para estes efeitos o material da quilha é essencial, pois materiais como o plástico possuem muita flexão e pouca deflexão, proporcionando pouca impulsão, enquanto o carbono possui ótima deflexão, porém pouca flexão, o que também restringe a impulsão.O material que possui maior grau de flexão e também de deflexão é a fibra de vidro, que consequentemente possui maior impulsão entre os materiais atualmente utilizados.Existem ainda outros materiais alternativos como a madeira, que normalmente recebem tratamento com resina e fibra de vidro e suas propriedades de flexão dependem o tipo de madeira (mais maleável ou maciça). 

Como o desenho das quilhas influenciam o surf 

As quilhas com maior área possuem maior drive, isto é, são mais rápidas e seguras na cavada da onda, mas fazem arcos mais largos e curvas abertas, ideais para um surf mais clássico e linear. As quilhas com drive são aquelas com base mais comprida, com bicos com maior área ou quilhas mais profundas e curvadas. 


O pivot é o tamanho do arco para fazer um retorno de 180º na linha da onda, conhecido como o turning. Um arco mais fechado e curto está relacionado com quilhas que possuem menor área, maior profundidade, menor curvatura e foil interno (no caso de quilhas laterais). Um arco longo (menos pivot) são características de quilhas com maior área ou com curvatura maior. 



Outro efeito das quilhas na maneira de surfar é a aderência da prancha na onda. Quanto maior o hold maior a aderência e segurança nas cavadas, mas em excesso dificulta as manobras. Quilhas menores, com menor profundidade e menor área (principalmente no bico) proporcionam menos hold


Tendências no design de quilhas 


Atualmente existem tendências de acordo com o tamanho das ondas e manobras dos surfistas da nossa época. Dessa forma, para escolher a melhor quilha, o surfista ou shapper deve levar em consideração um conjunto de fatores, como tipo de prancha, tamanho e peso do surfista, a onda que vai ser surfada, o estilo de surf (considerando se o surfista faz muitas manobras, ou gosta de seguir a linha da onda), etc. Cada variável da quilha trará um efeito. 

 Jimmi Cane

Para ondas pequenas costuma-se usar quilhas de base larga, ponta fina (com menos área), menor profundidade e inclinação. Assim, obtém-se maior tração (drive) - em função da base larga - a água jorra com mais facilidade - em função da ponta mais fina – a prancha derrapa sem desgarrar - em função da menor profundidade e pivotear mais facilmente, graças à menor inclinação do outline

Foto: Hank

Já para ondas maiores, as quilhas podem ter a base um pouco mais estreita - para proporcionar mais estabilidade nas curvas - ponta com área levemente maior - para obter maior impulsão - profundidade proporcionalmente maior com relação ao tamanho e a força das ondas - e inclinação maior, para garantir um arco mais fluído nas curvas, como pede o surf contemporâneo.
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Obrigado! Bom saber de mais gente que se aventura por esse mundo de marcenaria e surf. Gostei das informações sobre quilhas nos últimos posts! Qual a fonte de consulta?
    A minha oficina foi parcialmente desmontada, e ainda estou terminando um caiaque já faz mais de um ano, por isso não atualizei mais o blog.
    Vou acompanhando aí o seu!
    Abraço

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  2. Sou de Curitiba e trabalho com chapas de acrílico, vou me aventurar em confeccionar a minha quilha e ver no que dá, muito boas as explicações.

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