domingo, 16 de dezembro de 2012

A alaia que virou skate


O fisico Antoine Lavoisier já dizia: na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. 




Teste drive do novo long de asfalto na G10 da Unicamp

Encontrei no terreno de um amigo uma tábua de pinos com 1,5 m de altura por 40cm, com 4 cm de espessura e pensei: esta vai se transformar em um prancha de surf...



Desenho inicial da prancha que virou skate

Levei para a oficina e comecei o trabalho, mas eis que me deparo com um pedaço considerável da madeira podre. Foi aí que a teoria da conservação da massa me inspirou: nada se perde, tudo se transforma, não? 



O tempo implacável e a madeira.
Uma prancha de surf de madeira precisa ter um tamanho minimo para flutuar e ser surfável, mas e um skate de madeira maciça, construído igual a uma prancha, como seria? 

O projeto continuou normalmente, primeiro  com a serra tico-tico demos o formato do shape e depois cortando-o ao meio. Um filete de madeira foi colocado entre as partes como longarina, fixado com cola e pequenos pedaços de madeira, chamados cavilha.


Prendendo a longarina com cavilhas de madeira

A longarina serve para das maior força às pranchas de surf e evitar que empenem (entortem) facilmente. Os shapes de skate não precisam deste artificio, pois a madeira compensada é bastante estável, mas como esta é uma madeira maciça, e a proposta é fazer um shape de skate igual seria uma prancha, mantivemos a proposta.



Peças encaixadas

Para garantir que o conjunto não soltaria com uma pancada forte de bico, e para dar um estilão, coloquei uma madeira mais forte (madeira de lei) no bico e na rabeta. E convenhamos, ficou muito style!



Skate Longbord, parecendo um missil


O acabamento final foi com verniz náutico, e lixa transparente.



Shape estilo longboard
Lixa transparente para manter desenho da madeira
Parte de baixo
Cavilhas que fixam o bico desenham dois olhos

Teste drive foi na tradicional ladeira G10 da Unicampi 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pranchas de Surf que Marcaram a História

Texto Madeira & Água publicado em: Waves

O surf tem mudado desde as origens em um processo de mutação incessante. Podemos ver isto de muitas formas, na cultura que passou de sagrada para marginal e hoje é um produto rentável comercialmente. Outra maneira de encarar este desenvolvimento tortuoso é pela evolução do design das pranchas.

Muitas pranchas marcaram história e não é por menos, o shape, e os materiais mudam a forma de surfar, as manobras, o tipo de onda e consequentemente a imagem do esporte. Chegamos aonde estamos por causa de muita evolução nas tabuas de surfar. 

ANCIENT BOARDS



As primeiras pranchas são a base de tudo que existe hoje. O paipo, talvez a prancha mais antiga da Polinésia, era como um body board, servia de lazer para crianças, adultos, homens e mulheres. As alaias eram uma prancha sem quilha de madeira maciça construída no Havaí até as primeiras décadas do século XX. Os caras eram os melhores navegantes da época, seja em canoas grandes, pequenas ou, numa tabua. Os reis e nobres tinham pranchas especiais, feitas com madeiras mais leves e muito compridas chamadas olo, ideais para remar em alto mar e surfar ondulações oceânicas.

ALAIAS MODERNAS


Quando os norte americanos anexaram o Havaí ao seu país encontraram um povo quase nada dos antigos costumes nativos. Mesmos assim, alguns havaianos como o lendário Duke Paoa Kahanamoko e o salva vidas George Freenth difundiram o esporte pela América. Quando as pranchas de surf começaram a ser construídas nos EUA, aproveitaram-se colas e madeiras mais leves, modernizando as pranchas ancestrais.

HOLLOW BOARDS



Se Duke foi um dos principais personagens que tirou o surf do ostracismo, Tom Blake foi o figura que mais contribuiu à evolução do esporte na América. As pranchas de surf da época pesavam dezenas ou centenas de quilos, primeiro Blake inventou as hollow bords (pranchas ocas), consideradas a tecnologia mais avançada, depois ele criou um estabilizador, considerado a primeira quilha.

SIMMONS BOARDS 1950


As pranchas de surf de Bob Simmons foram início de uma revolução no esporte. A princípio ele fez em madeira balsa uma prancha estilo long board e deu acabamento com resina epoxy: maior leveza e flutuação. Em seguida aperfeiçoou as quilhas, inclusive construindo pranchas com duas quilhas! Hoje existe uma releitura deste modelo muito interessante de se surfar, as mini simmons. Esta prancha pose ser considerada o antepassado dos long board, e a inspiração das pranchas fish.

LONG BOARDS 1960


Até os anos 50 as pranchas eram enormes, feitas normalmente de madeira balsa, com acabamento em resina epoxy e grandes quilhas, muito aprecisadas até hoje pelos adeptos do classic long board. Os anos 60 vieram para mudar o surf radicalmente, com a profissionalização dos esporte e dos shapers de pranchas. O bloco de poliuretano deixou a prancha mais leve e com abundância de material (existe muito mais petróleo do que arvore de balsa no mundo). As pranchas começaram a ficar menores e as quilhas deixaram mais rápidas e manobráveis. 

VELO E A REVOLUÇÃO DAS QUILHAS



Outro surfista com grande influência no design das pranchas foi George Greenough. Em meados dos anos 60, ele desenvolveu uma prancha de surf com uma quilha diferente, inspirada no rabo de um atum, diminuiu a largura e aumentou a profundidade, ganhando mais velocidade e curvas muito mais fechadas. O interessante é que ele testou este modelo em uma pequena prancha para surfar de joelhos! Segundo alguns contemporâneos, esta pranchinha também inspirou a nova geração de surfistas a experimentar pranchas menores e mais manobráveis.

EVOLUÇÕES DOS ANOS 70 - PRANCHINHAS


Os anos 70 foram tempos de pranchas que  trouxeram a expressão "radical" para o esporte. A pranchinha monoquilha passou a ser usada em todo canto do mundo, com tamanho muito menor do que se usava 10 anos antes (aproximadamente 6 pés) e uma quilha fina que possibilitava ganhar muito mais velocidade, antecipando-se a onda e manobrando com curvas rápidas. 


GUN 1970



Se as pranchinhas monoquilhas foram unanimes em popularidade, as guns eram o que havia de melhor e mais avançado em termos de prancha e de ondas nos anos 70. Com shape mais fino, rabetas pin tail e tamanho por volta de 7 a 9 pés, estas pranchas possibilitaram surfar ondas antes consideradas impossíveis. 


  TWINS & FISHS 1970


Ainda no caldeirão dos anos 70, surgiam da biquilhas, ou twin fin, consolidando o surf entre os esportes radicais. Se as pranchinhas monoquilha tinham transformado as manobras, as duas quilhas deram um up grade ainda maior! Quando associada com as rabetas fish, permitiam ganhar velocidade e ainda fazer curvas tão fechadas que rasgavam a linha da onda, levando a galera da areia ao delírio. Mark Richards foi o primeiro campeão a ganhar 3 títulos mundiais e popularizou o modelo com duas quilhas, tonando-se um paradigma que ondas pequenas deviam ser surfadas com duas quilhas e ondas maiores com guns (ou semi-guns) de uma quilha.


THRUSTER 1980...


Finalmente chegaram os anos 80 e muita gente pensava que as pranchas de surf tinham chegado no limite da evolução, até o shaper e surfista profissional Simon Anderson aparecer no Rip Curl Pro Bells Beach de 1981 com uma pranchinha de 3 quilhas e ganhar o campeonato com aquela que parecia ser uma ideia bizarra. A prancha batizada de thruster foi um sucesso tão grande que tiraram as monoquilhas e biquilhas do mercado rapidamente. Atualmente os modelos antigos voltaram graças a moda retrô, que resgatou os bons e velhos modelos dos anos 70. Mesmo assim, qualquer surfista de pranchinhas do final do século XX e inicio do século XXI precisa ter uma triquilha no seu quiver.

MULTIFINS EVOLUTION


Todo paradigma existe para ser quebrado, o século XX chegou com outra mudança no shape das pranchas, as mult fin. Nos anos 80 houveram experiências com as pranchas de 4 quilhas, mas a popularidade não foi das maiores. No início do século XXI, grandes nomes do surf resolveram dar uma chance ao modelo, que sofreu algumas alterações e melhorias dando origem a uma nova linha de pranchas com opção para uma, duas, três, quatro e (porquê não?) cinco quilhas, dando a opção de usar, quantas quilhas desejar, dependendo das condições do mar ou do estilo do surfista. 

Hoje o surf está em uma fase em que as manobras e ondas surfadas chegaram a um nível de desempenho nunca antes imaginado, e fica difícil imaginar para onde esta evolução pode continuar. Mas conhecendo a história do esporte e a evolução das pranchas sabemos que a coisa vai continuar andando.

Para que quiser pesquisar os shapes históricos entre no link do site SUFBOARDSLINE.